Negócios
Tatiane Alcântara: empreendedora transformou gosto por semijoias e acessórios em loja on line

Mulheres superam desafios e já são 46% dos empreendedores MEI na RMC

Segundo o MEMP, região tem 56,2 mil microempreendedoras individuais; alimentação, moda, beleza e serviços são os segmentos preferidos por elas na hora de abrir o próprio negócio

Beth Soares | Tribuna Liberal

Há três anos, a lash designer Karina Venerando dos Santos, 38 anos, decidiu trocar o trabalho com carteira assinada para investir no sonho de ter o próprio negócio na área de beleza. Nascia, em plena pandemia, o Studio Karina Venerando, especializado em extensão de cílios, localizado em Hortolândia. A empreendedora faz parte do grupo de 56,2 mil mulheres que são MEIS (Microempreendedoras Individuais) na RMC (Região Metropolitana de Campinas), segundo dados do MEMP (Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte). Uma jornada com muitos desafios.

De acordo com o órgão federal, as mulheres MEI representam 46% do total de 122,2 mil microempreendedores individuais existentes nas 20 cidades da RMC (Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo). Os outros 54%, (65,98 mil) são empresas comandadas por homens.

Karina conta que antes de abrir o próprio negócio trabalhava como funcionária na área de produção de empresas metalúrgicas. Também passou pelo comércio, exerceu funções de secretária e de recepcionista. Em 2020, foi dispensada da fábrica onde era empregada há 10 anos. Karina recorda que vinha enfrentando problemas emocionais, como ansiedade e síndrome do pânico, depois de ter sido vítima de tentativa de assédio no ponto de ônibus, no trajeto para o trabalho.A lash designer Karina Venerando: do chão de fábrica a dona do estúdio de beleza especializado em extensão de cílios

“Quando fui desligada da empresa, estava em tratamento e não tinha condições nenhuma de voltar a trabalhar fora. O simples fato de sair no portão da minha casa era muito difícil pra mim. Então, a única forma que eu via de voltar a trabalhar era colocar em prática o sonho de montar um negócio próprio”, diz a empreendedora.

No início, a extensionista de cílios atendia dentro da sua residência, em um dos quartos. É que a casa era o único lugar onde ela se sentia segura. “Não queria voltar pra empresa, enfrentar ponto de ônibus. Foi quando decidi investir meu acerto (rescisão de contrato): fiz o curso, treinei, montei meu negócio e estou com ele até hoje”, comemora Karina.

Para construir o estúdio de beleza, que hoje funciona independente da casa, no Jardim São Jorge, Karina recorreu ao empréstimo financeiro oferecido pelo Banco do Povo com taxas de juros reduzidas para MEI comparado às instituições financeiras comuns. “O MEI ajuda muito porque assegura o empreendedor em várias questões: afastamento pelo INSS, tempo de contribuição para aposentadoria, empréstimos com taxas menores”, valoriza Karina.

Os segmentos de negócios com maior número de mulheres MEI à frente são alimentação, moda, beleza e serviços, informa o MEMP. Para fortalecer a participação das mulheres no mundo dos negócios, ainda dominado por homens, o governo federal anunciou, neste mês, ações de capacitação destinadas a pequenas empreendedoras (veja reportagem abaixo). 

A empreendedora Tatiane Cristina de Almeida Alcântara, 40 anos, também moradora de Hortolândia, transformou seu gosto por semijoias e acessórios em negócio. Há 10 anos, ela criou a loja D. Maria Acessórios.

Nos últimos cinco anos, a venda de pulseiras, brincos, anéis e colares, dentre outros itens, passou a ser feita pelo Instagram, na loja on line @donamariaa.acessorios. “A loja de é um sonho que tirei do papel e coloquei em prática. É algo que gosto muito para o uso próprio e pra elevar a autoestima de outras mulheres”, destaca a empreendedora, também publicitária, que trabalhou com carteira assinada por mais de 10 anos em funções de atendimento ao cliente e vendas.

“O MEI ajuda a sermos formal, ter o negócio todo regularizado. Agrega, também, muitas vantagens para que o nosso empreender venha a crescer. Através do MEI, conquistamos muitos benefícios”, assinala Tatiane.

15 MILHÕES DE MEIs

De acordo com o governo federal, o Brasil tem 15,5 milhões de MEIs. Desse número, 54,3% são homens e 45,7% mulheres. As principais vantagens do MEI são: CNPJ para regularizar o negócio e emitir nota fiscal, baixo custo mensal de tributos (INSS, ISS e ICMS), hoje de R$ 70,60, direitos e benefícios previdenciários (aposentadoria por idade, invalidez, auxílio-doença, salário-maternidade, pensão por morte para a família).

‘É PRECISO CORRER ATRÁS E NÃO DESISTIR DOS SONHOS’

Conciliar a gestão dos negócios com os diversos papéis que as mulheres exercem no dia a dia, como mães, esposas e cuidadoras do lar, é apontado por Karina e Tatiane como os principais desafios na trajetória empreendedora feminina. “A gente tem que buscar conhecimento, inovar porque não podemos parar de estudar, mas temos outras questões muito importantes na nossa vida... A gente tem que se desdobrar para conseguir conciliar trabalho, casa, filho, marido, familiares. O desafio é grande... Somos autônomas, então batalhamos todo dia pelos nossos clientes”, comenta Karina, casada com o artista urbano Leandro Kranium, com quem tem dois filhos.

Tatiane observa que além do desafio de administrar a empresa e a vida em família, muitas empreendedoras enfrentam a falta de incentivo. “A maioria das mulheres que eu convivo falam que não têm apoio em casa, da família, do esposo. Então, tem que ter estrutura emocional pra cuidar dos filhos, ajudar nas tarefas escolares... Não é fácil empreender sendo mulher. Às vezes, nem quem está perto da gente acredita no nosso sonho porque, no início, o resultado financeiro demora a aparecer... É raro você ouvir mulheres que tenham apoio. É preciso ter estrutura física e emocional pra enfrentar tudo, correr atrás e não desistir dos sonhos”, incentiva a empreendedora.

De acordo com pesquisa divulgada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio Ao Micro e Pequeno Empreendedor), as mulheres têm menos apoio para abrir ou gerir pequenas empresas, gastam quase o dobro de horas com cuidados com a família do que os homens e mais de 40% delas já sofreram ou conhecem alguém que passou discriminação por causa do gênero.   

ACIAH TRAZ CONSELHO DA MULHER EMPREENDEDORA E DA CULTURA PARA HORTOLÂNDIA NESTA SEGUNDA-FEIRA

Hortolândia conta, agora, com o CMEC (Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura), vinculado à ACIAH (Associação Comercial e Industrial de Hortolândia), que promete ampliar o suporte a empreendedoras da cidade. O lançamento do CMEC será nesta segunda-feira (18/03), no Drud’s Hotel.

De acordo com a diretora da ACIAH e presidente do CMEC, Aline Nunes, com a chegada do Conselho as mulheres terão um apoio de abrangência nacional, superior ao auxílio antes oferecido pelo Núcleo de Mulheres Empreendedoras da Associação.

Aline Nunes: diretora da ACIAH e presidente do CMEC

“Nosso objetivo é acolher essas microempreendedoras, dar suporte, trazer conhecimento e gerar network, que é essa troca, o compartilhar dos negócios porque muita parceria sai daí. É muito gratificante”, afirma a presidente voluntária do CMEC, que é psicanalista e terapeuta comportamental.

São esperadas 60 empreendedoras para o evento, inscritas previamente. A programação prevê coffee break, pitch de vendas, networking, além de três palestras: “Vencendo as Barreiras Financeiras (Flávia Ferreira); Liderança e Gestão de Negócios para Mulheres (Gisele Parente) e Mentalidade de Sucesso e Ambiência (Aline Nunes).

O CMEC é uma iniciativa ligada às Associações Comerciais, que atua em conjunto com lideranças femininas para debater e incentivar temas que impactam diretamente no empreendedorismo feminino no Brasil.

O Conselho funciona como um fórum de referência de estudos, debates e inspirações para promover e incentivar a educação empreendedora entre as mulheres, além de desenvolver ações, campanhas e projetos sociais, culturais e de fomento da economia.

GOVERNO BUSCA PARCERIAS PARA PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO

Neste mês, o governo federal anunciou ações para o fortalecimento da participação feminina no mundo dos negócios. De acordo com o MEMP, estão previstas medidas para ampliação do acesso ao crédito, educação financeira, acesso a mercado, tecnologia e inovação, maternidade, diversidade e vulnerabilidade, por meio de integração de políticas públicas e participação de entidades da sociedade civil para que as iniciativas cheguem até a ponta.

Como parte da estratégia, o MEMP firmou uma parceria com a Rede Mulher Empreendedora para capacitar mais de 17 mil mulheres que empreendem ou querem empreender. “Vamos treinar 17 mil mulheres, sem ter um custo direto para o governo, e ao mesmo tempo teremos a oportunidade de aprender com a rede para que a gente possa fazer essas capacitações para mais mulheres”, explica o ministro Márcio França, por meio da Assessoria de Imprensa.

Agora, o Ministério busca instituições parceiras para o programa que vai capacitar 17 mil mulheres empreendedoras em todo o Brasil. Enquanto o Ministério cuidará da logística e da gestão das turmas, a Rede Mulher Empreendedora ficará encarregada da condução das capacitações, que serão realizadas presencialmente ou de forma híbrida.

Para a formação das turmas, é necessária a participação de uma instituição parceira em cada localidade, podendo ser uma cooperativa, uma associação, uma empresa. Para se inscrever e se tornar uma instituição parceira, basta preencher o formulário disponível neste link: https://forms.gle/yyRf7FqjkJtpuVCaA.

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