Tradicional em Nova Odessa, Ober tem dívida de R$ 91,2 mi e solicita recuperação judicial
Assim como a Ambipar, que tem planta no município, Ober fez
pedido de recuperação judicial ao declarar dívida milionária a fim de evitar a
interrupção das operações; processo aponta crise agravada por credores que
buscam bloqueios e execuções
Após a recuperação judicial da Ambipar, a Ober S/A Indústria
e Comércio, tradicional fabricante da área têxtil de Nova Odessa, pediu
recuperação judicial ao declarar dívida de R$ 91,2 milhões, a fim de manter em
funcionamento a fábrica, preservar 1,4 mil empregos e renegociar dívidas com
credores.
O pedido foi apresentado na esfera regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem, com sede em Campinas. No pedido, a Ober afirma enfrentar uma crise econômico-financeira “superável”, mas destaca que a postura cada vez mais agressiva de credores, com ações de execução e ameaças de bloqueio de bens essenciais à produção, tornou inevitável o ajuizamento da recuperação judicial.
Uma perícia prévia pode ajudar na decisão sobre o deferimento do caso, etapa determinante para a empresa obter a proteção legal contra execuções individuais e ganhar fôlego para negociar um plano com seus credores.
Fundada em 1962, a Ober é uma das indústrias mais
tradicionais de Nova Odessa. Sua fábrica ocupa um parque fabril de 200 mil m²,
sendo 130 mil m² de área construída, na Avenida Industrial Oscar Berggren, no
Parque Industrial Recanto. A companhia atua na fabricação de não tecidos
agulhados a partir de fibras naturais, mistas e sintéticas, suprindo diversos
setores – como automotivo, geossintéticos para obras de engenharia civil,
calçadista, moveleiro, filtração industrial, limpeza institucional e o segmento
de cama, mesa e banho.
A empresa também enfatiza compromisso com a sustentabilidade, afirmando reprocessar um volume de resíduos equivalente a 420 milhões de garrafas PET por ano, que entram na linha de produção como matéria-prima. Ao longo de mais de seis décadas, a Ober é fornecedora no mercado interno e no Mercosul, com produtos presentes em todo o território nacional. A companhia destaca que emprega aproximadamente 1.400 colaboradores diretos, além de gerar milhares de empregos indiretos e manter uma rede de parceiros e fornecedores que depende do funcionamento regular da fábrica em Nova Odessa.
A crise, porém, foi se aprofundando nos últimos anos. Segundo a exposição feita à Justiça, a companhia até chegou a registrar um ciclo de crescimento durante a pandemia de Covid-19. Entre 2020, 2021 e 2022, a receita operacional líquida avançou 18,3%, 38,2% e 12,3%, respectivamente, impulsionada sobretudo pela redução das importações vindas da China em razão das restrições sanitárias globais. Esse cenário positivo, contudo, foi rapidamente corroído pela inflação de custos, especialmente em insumos importados, e pela disparada dos fretes internacionais, o que comprimiu margens e dificultou o repasse integral dos aumentos ao consumidor final.
EMPRÉSTIMOS
Para sustentar o crescimento operacional e garantir liquidez em meio à incerteza, a Ober recorreu a empréstimos bancários e ampliação de linhas de crédito junto a fornecedores. Entre 2020 e 2021, o endividamento aumentou 45,5%, alcançando cerca de R$ 68 milhões, num contexto em que a taxa Selic estava no piso histórico de 2% ao ano, e programas especiais de crédito tornavam o custo financeiro relativamente baixo. A estratégia, apresentada pela empresa como “defensiva e técnica”, tinha como objetivo manter a produção ativa, preservar empregos e evitar demissões em massa em plena crise sanitária.
MUDANÇAS ECONÔMICAS
O cenário macroeconômico, no entanto, mudou de forma brusca
a partir do terceiro trimestre de 2021. Com a inflação pressionada, o Banco
Central iniciou um ciclo agressivo de alta da Selic, que, segundo a própria
Ober, teve aumento de 7,5 vezes no período analisado. O dinheiro ficou mais
caro e mais escasso: empresas e consumidores passaram a enfrentar crédito
restrito, juros elevados e perda de poder de compra. Ao mesmo tempo, a eclosão
da guerra entre Rússia e Ucrânia agravou os problemas globais de oferta,
pressionou os preços de matérias-primas e contribuiu para uma crise cambial que
desvalorizou o real frente ao dólar, encarecendo insumos importados e elevando
custos de produção.
Em 2023, a Ober registrou queda de 3,8% na receita operacional líquida em relação a 2022, ao mesmo tempo em que seu endividamento total já havia crescido 96,8% em relação a 2019. A empresa afirma ainda que a alta carga tributária brasileira funciona como um entrave adicional à sua competitividade, embora ressalte que o passivo fiscal está “controlado” e pode ser equacionado por meio de parcelamentos e eventuais transações tributárias dentro do ambiente da recuperação judicial.
PROBLEMA AGUDO
O problema mais agudo, segundo a petição, está na postura de
parte dos credores, descrita como “belicosa”: sem disposição para negociar e
acionam a empresa na Justiça para tentar garantir penhoras e bloqueios. Essa
dinâmica, de acordo com a Ober, ameaça diretamente o funcionamento da fábrica.
Diante desse quadro, a empresa sustenta que esgotou as tentativas de composição amigável e passou a ver, na recuperação judicial, o único caminho para reestruturar de forma organizada seu passivo e evitar a perda desordenada de ativos. Nos autos, a Ober enfatiza que possui “plena viabilidade econômica” e que sua crise é superável desde que inserida em um ambiente controlado, com suspensão de ações e execuções individuais.
CASO AMBIPAR
O pedido da Ober chega ao Judiciário pouco depois de outra
gigante vinculada a Nova Odessa, a Ambipar, pedir reestruturação. O Grupo
Ambipar, com mais de 600 bases em 41 países e atuação nos setores de óleo e
gás, indústria, energia e logística, protocolou recuperação judicial no Brasil
e pediu proteção nos Estados Unidos, em um esforço para reorganizar passivos
estimados em R$ 10,5 bilhões e preservar mais de 23 mil empregos diretos.
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