Política
Nani Camargo explica episódio recente que terminou em boletim de ocorrência envolvendo Edson Moura

Após romper com Edson Moura, Nani fala sobre polêmica e o futuro político

Ex-candidata a prefeita destaca conquista inédita de votos em 2020, aponta machismo estrutural como barreira à presença feminina na política, comenta rompimento pessoal e político com o ex-prefeito Edson Moura e diz que foca nos estudos

Em entrevista ao Tribuna Liberal, a ex-candidata a prefeita de Paulínia, Nani Camargo, relembrou sua votação nas eleições de 2020, falou sobre os obstáculos do machismo estrutural na política, abordou o rompimento pessoal e político com o ex-prefeito Edson Moura, esclareceu polêmicas recentes que foram parar na Delegacia de Polícia e afirmou que, embora continue ligada à política, sua prioridade atual é a família e os estudos em medicina. Confira a entrevista completa.

Tribuna Liberal: Nani, você teve uma trajetória política expressiva em Paulínia, sendo a mulher com maior percentual de votos da RMC em uma eleição municipal em 2020. Como você avalia hoje sua carreira política e os desafios enfrentados ao longo desse percurso?

Nani Camargo: Sou profundamente grata a Deus e ao povo de Paulínia pela confiança que me acolheu com tanto carinho e me entregou a oportunidade de representar as mulheres na política de nossa cidade — algo que há anos não acontecia, nem mesmo no Legislativo municipal. Paulínia é uma cidade marcada por tradições fortes e por heranças conservadoras, e sabemos que isso também carrega o peso do machismo estrutural, que insiste em limitar o espaço da mulher na política.

Acredito que avançamos, sim. A minha eleição em 2020, sendo a mulher com maior percentual de votos de toda a Região Metropolitana de Campinas, foi um sinal claro de que a sociedade deseja e reconhece a força da participação feminina.

Mas esse avanço não pode ser isolado, ele exige continuidade: dentro dos partidos, no processo de candidaturas, nas alianças políticas, nas campanhas e, sobretudo, no apoio da população. É preciso enfrentar os obstáculos, entender suas raízes e agir com estratégia para superá-los.

Vale lembrar que a última mulher eleita vereadora em Paulínia foi em 2016. Desde então, o Legislativo municipal está sem representação feminina. Isso revela uma contradição inaceitável: em uma cidade com tantas mulheres capazes e preparadas, a presença feminina ainda é tratada como exceção, quando deveria ser algo natural, constante e valorizado.

Muito se fala sobre o rompimento político entre você e o ex-prefeito Edson Moura, com quem também teve uma relação pessoal e foi casada. O que motivou esse afastamento, tanto na esfera pessoal quanto política?

Fiquei casada por quase 11 anos com o Edson, pai do meu filho, Edson Di Lucca, de 7 anos. Tenho gratidão pelos aprendizados profissionais que vivenciei nesse período, porque muito do que sei sobre gestão pública também foi construído observando e acompanhando sua trajetória política. 

Sempre reconheci que, “como gestor”, ele deixou marcas significativas em Paulínia. Não podemos negar que durante seu governo a cidade conquistou obras fundamentais — hospitais, UBSs, escolas, pontes, avenidas, casas populares, o teatro — investimentos que transformaram a vida da população e até hoje impactam positivamente nossa cidade. Como paulinense, tenho a humildade de fazer esse reconhecimento.

No campo pessoal, como em qualquer relacionamento, tivemos bons momentos. Mas chegou um ponto em que ficou impossível seguir adiante. O término foi doloroso após descobrir o relacionamento com uma garota de 14 anos que vivia dentro da minha casa, no meu carro, sob os palanques políticos… A partir de circunstâncias muito delicadas, entendi que não havia mais espaço para manter a relação. Meu foco, desde então, tem sido cuidar da minha família, principalmente dos meus filhos, estudar muito e seguir meu próprio caminho.

A vida pública me ensinou que é possível olhar para trás com gratidão, mas também com clareza sobre quando é hora de virar a página e escrever uma nova história.

Você acredita que houve uma tentativa, por parte dele, de impedir seu crescimento político após o rompimento? Se sim, de que forma isso se manifestou?

Não vejo como uma tentativa direta de impedir meu crescimento político. O que percebo é que o Edson, assim como muitos homens de sua geração, foi criado em uma época em que o machismo patriarcal era muito mais forte e naturalizado. Dentro desse contexto, era comum que as mulheres precisassem se moldar aos planos dos homens, muitas vezes abrindo mão de suas próprias vontades.

Eu vivi isso em alguns momentos, mas também reconheço que tive oportunidades de aprender e crescer. Ele me abriu espaço em determinadas etapas da política e, quando percebeu que eu estava ganhando experiência e que o povo me acolhia com carinho, essa trajetória ganhou força própria.

O que aconteceu comigo ilustra exatamente como o machismo estrutural funciona: mesmo quando a mulher tem potencial, precisa provar duas, três vezes mais que é capaz para conquistar seu lugar. Felizmente, eu tive coragem de seguir meu caminho, e o apoio da população mostrou que a força da mulher não pode mais ser vista como exceção, mas como parte essencial da política.

O episódio recente que terminou na delegacia gerou bastante repercussão. Você pode esclarecer o que realmente aconteceu naquele dia? No boletim de ocorrência, você afirma que apenas foi buscar seu filho, com a autorização de outro filho do ex-prefeito.

Naquele dia fui até o condomínio em Barão Geraldo onde ele mora atualmente para buscar meu enteado, que eu criei dos 6 aos 17 anos — para sairmos juntos e tomarmos um sorvete — desde o término Edinho está constantemente dentro da minha casa e saindo comigo. Ele mesmo autorizou minha entrada na portaria e me chamou até a porta da casa.

Nesse momento, o Edson saiu falando ao celular, em ligação de vídeo com a atual namorada, e disse que eu não poderia estar ali, porque precisava ‘respeitar a relação deles’. A partir disso, por influência da própria ligação, ele decidiu registrar um boletim de ocorrência.

É importante esclarecer que não houve invasão ou qualquer atitude desrespeitosa da minha parte. Pelo contrário: eu apenas estava buscando alguém que considero como um filho, com a anuência dele. Além disso, vale lembrar que o Edson sempre teve acesso ao meu condomínio, indo inclusive buscar nosso filho no colégio várias vezes por semana e levando até a porta da minha casa, sem que jamais houvesse qualquer impedimento.

Por isso, acredito que o episódio não reflete a realidade dos fatos, mas sim uma circunstância de pressão externa da garota naquele momento. Para mim, ficou claro que a decisão de ir à delegacia não partiu dele por convicção, mas para atender a um pedido e deixar ela acreditando que manda no relacionamento (risos).

Você mencionou que o motivo alegado por ele para barrar sua entrada foi uma ligação com a atual namorada. Acha que essa situação revela um comportamento que vai além de um desentendimento familiar?

Sim, vai além de um desentendimento familiar. O episódio evidencia fragilidade emocional e receio de contrariar a atual namorada, o que me chamou atenção para a saúde mental dele e também para a responsabilidade dos pais da adolescente. Mais do que um conflito pessoal, reforça a importância de cuidarmos da saúde emocional e de proteger quem está sob nossa responsabilidade, especialmente os filhos.

Essa situação pode ter reflexos políticos? Você teme que esse caso seja usado para manchar sua imagem caso decida disputar as eleições de 2026?

Não me preocupei com imagem política, porque naquele momento o que era mais importante estava acima de qualquer cálculo eleitoral: a proteção da minha família e dos laços maternos. Edinho não é meu filho biológico, mas é meu filho de coração, faz parte dos meus compromissos de vida. Minha prioridade é lutar pelo bem-estar deles, e é por esse amor que coloco minha energia e minhas decisões. A política é importante, mas jamais pode se sobrepor à responsabilidade de cuidar de quem amamos.

Falando em eleições: você pretende disputar a Prefeitura de Paulínia novamente ou uma vaga de deputada em 2026? Há conversas com partidos ou grupos políticos para viabilizar essa candidatura?

Continuo à disposição da população de Paulínia, mas, neste momento, estou totalmente focada nos meus estudos (medicina). Vejo a política não como uma profissão, mas como um ato de servir — uma missão que exige dedicação e propósito. Recebi diversos convites para disputar uma vaga de deputada, mas confesso que, neste momento, essa não é a prioridade que toca meu coração. 

Minha conexão com Paulínia é profunda: nasci aqui e quero criar meus filhos na nossa cidade, contribuindo sempre que possível. Quanto à disputa pela prefeitura, considero muito prematuro falar sobre isso agora. O que me move é estar preparada, estudando e fortalecendo meu conhecimento para, quando chegar o momento certo, poder oferecer o melhor para a população.

Por fim, como você lida com o peso de ser uma figura pública em meio a questões pessoais delicadas como essa?

Ser figura pública significa falar com milhares de pessoas e essa visibilidade traz uma responsabilidade enorme. A internet não deve servir apenas para mostrar os melhores momentos da vida; ela também pode ser espaço para alertar, refletir e compartilhar aprendizados importantes. 

No meu caso, aproveitei para falar sobre valores familiares, a importância dos vínculos afetivos, a maternidade, a responsabilidade dos pais e, sobretudo, a atenção à saúde mental. Talvez, em meio a desafios e situações delicadas, surjam sinais que façam refletir, conscientizar e inspirar. Meu desejo é que essas mensagens ajudem pessoas a cuidar de si e de quem amam, lembrando que essas prioridades são maiores que qualquer momento ou crise isolada.

Deixe um comentário