TCE-SP condena instituto de saúde da gestão Luiz Dalben a devolver dinheiro
Tribunal de Contas do Estado determina que Instituto Social
Saúde Resgate à Vida, organização social contratada no governo do ex-prefeito,
devolva aos cofres de Sumaré valores referentes ao pagamento indevido de juros
e multas
Em decisão que atinge a política de terceirização da saúde
adotada pela gestão do ex-prefeito Luiz Dalben (PSD), o Tribunal de Contas do
Estado de São Paulo (TCE-SP) condenou o Instituto Social Saúde Resgate à Vida
(ISSRV) a devolver aos cofres da Prefeitura de Sumaré R$ 15.271,50, valor
referente ao pagamento indevido de juros e multas bancárias com recursos
públicos repassados para a gestão de unidades de urgência e emergência do
município no exercício de 2018.
O caso envolve o contrato de gestão 97/2017, firmado para a
operacionalização da UPA 24h do Macarenko, do Pronto-Atendimento do Matão e do
Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), e analisou a aplicação de R$
16,9 milhões destinados ao instituto naquele ano.
Na decisão, a 2ª Câmara do TCE, sob relatoria do conselheiro
Sidney Estanislau Beraldo e presidida por Renato Martins Costa, concluiu que R$
16,5 milhões foram aplicados de forma regular, mas declarou irregular um total
de R$ 57.951,50 - parte dele justamente ligado à quitação de multas com
dinheiro do contrato, prática que levou à condenação de devolução ao erário.
O voto do relator aponta que a fiscalização do Tribunal identificou
pagamento de penalidades financeiras com verbas do repasse, “despesas
estranhas” ao objeto do contrato – como serviços médicos prestados em unidades
não previstas originalmente – e falhas no acompanhamento administrativo por
parte da prefeitura, que não produziu relatório conclusivo nem registrou, em
parecer final, as ressalvas apontadas pelo próprio controle interno.
Embora tenha considerado irregulares as despesas
classificadas como “estranhas ao objeto”, no valor de R$ 42.680,00, o
conselheiro Beraldo decidiu não exigir a devolução dessa parte por entender que
os serviços foram prestados a pedido do município durante um surto de dengue,
zika e chikungunya, mas deixou claro que a alteração de escopo não foi
formalizada por termo aditivo e não poderia ter ocorrido sem o devido ajuste
contratual.
O Tribunal ainda criticou a conduta da administração
municipal, advertindo a Prefeitura de Sumaré pela falta de controle mais
rigoroso sobre a execução do contrato, pela emissão de pareceres conclusivos favoráveis
mesmo diante de falhas em transparência e contabilização de despesas e pelo uso
sucessivo de contratos de gestão emergenciais com a mesma entidade na rede de
saúde, sem que se comprovasse, de maneira estruturada, que a parceria era a
melhor opção para o interesse público.
Outro ponto reprovado foi o descumprimento das Leis de
Acesso à Informação e da Transparência pelo ISSRV: segundo o TCE, o site do
instituto não disponibilizava dados básicos, como estatuto atualizado,
contratos de gestão, planos de trabalho, valores repassados, lista de
prestadores e remuneração de dirigentes, o que levou o TCE a advertir a
prefeitura para que passasse a exigir a divulgação dessas informações como
condição para a manutenção das parcerias.
Ao final, a 2ª Câmara obrigou a administração a comunicar as medidas tomadas em relação às irregularidades apontadas e à cobrança do valor devido pelo instituto, atualizado até o efetivo ressarcimento. Após os apontamentos, foi julgada regular a prestação de contas no valor de R$ 16,5 milhões, e considerado ilegal o montante de R$ 57,9 mil referente ao contrato.
“Condena, outrossim, o Instituto Social Saúde Resgate à Vida
– ISSRV à devolução aos cofres municipais do valor decorrente do indevido
pagamento de juros e multas com recursos do repasse, de R$ 15.271,50,
devidamente atualizado até a data de seu efetivo recolhimento”, afirma o TCE.
Segundo o TCE, um saldo não aplicado de R$ 753.834,04 foi
analisado em outro processo, ligado ao contrato de gestão 88/2018, que já havia
sido julgado irregular em decisão anterior, apontando o histórico de problemas
nas contas do mesmo grupo perante a Corte de Contas paulista. A reportagem não
conseguiu contato com o instituto.
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