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Especialista destaca impacto econômico regional de incêndios industriais como em Monte Mor

Incêndio em Monte Mor revela falta de segurança e urgência em ampliar lei, diz especialista

Fogo que destruiu dois galpões na cidade expõe brechas na legislação de segurança industrial e reforça alerta de especialistas; ausência de exigências deixa fábricas mais vulneráveis e favorece tragédias

O incêndio que destruiu dois galpões de uma indústria de tapetes higiênicos para pets em Monte Mor reacendeu o debate sobre a fragilidade da proteção contra incêndios no setor industrial. A ocorrência, registrada na madrugada do último dia 4, mobilizou equipes de quatro municípios – Hortolândia, Sumaré, Nova Odessa e Piracicaba – além da Defesa Civil de Monte Mor. Apesar da dimensão do fogo e do colapso das estruturas, não houve vítimas.

As chamas se alastraram por mais de 11 horas devido à grande quantidade de materiais altamente inflamáveis armazenados no local, como celulose, papel e plástico. A operação de combate foi dificultada pela própria natureza dos insumos. Segundo o tenente Pedro Henrique Costa Bernardo, os tapetes possuem alta capacidade de absorção, semelhante à de fraldas, dificultando que a água atingisse o foco do fogo, o que exigiu remoção manual de grandes volumes de material.

O caso de Monte Mor expõe um problema estrutural: a legislação brasileira não obriga todas as indústrias – mesmo as que lidam com materiais de rápida combustão – a instalar sistemas completos de prevenção e combate a incêndios, como sprinklers automáticos.

Marcelo Lima, do Instituto Sprinkler Brasil (ISB) e especialista em proteção e combate a incêndios, explicou que existe um forte contraste entre as exigências destinadas às edificações comerciais e residenciais e aquelas aplicadas ao setor industrial.

FÁBRICAS DESPROTEGIDAS

“As exigências impostas aos edifícios comerciais são robustas. Porém, quando se fala em indústrias, as exigências são insuficientes. Nem todas as operações fabris são obrigadas a instalar sistemas de sprinklers, por exemplo. Só haverá proteção maior, se a companhia quiser investir ou se a seguradora exigir. E, para manter esses ambientes seguros, é fundamental que haja alteração nas classificações de risco, pois há fábricas de materiais altamente inflamáveis – como papelão, madeira, alimentos e outros insumos de alta combustão – que estão completamente desprotegidas”, detalha.

O especialista reforça que a ausência de exigências legais para sistemas completos de proteção causa um vácuo regulatório perigoso. “A falta dessa exigência na legislação abre espaço para ocorrências como o recente grande incêndio que ocorreu em Monte Mor. Felizmente, não houve mortes ou pessoas feridas, mas o prejuízo material, com certeza, foi enorme”, afirma.

IMPACTO ECONÔMICO

Além dos riscos imediatos à vida e ao patrimônio, Marcelo Lima alerta para o impacto econômico que incêndios industriais podem causar em cidades menores. “Quando um grande incêndio atinge uma indústria que opera em um pequeno ou médio município, muitos empregos podem ser comprometidos pelo impacto monetário que, por consequência, afeta o comércio e a economia local – ciclo que afeta a saúde financeira regional”.

O especialista reforça a necessidade de revisão urgente das classificações de risco e de ampliação da legislação, tornando obrigatória a instalação de sistemas completos de combate a incêndios nas indústrias que lidam com insumos inflamáveis. “O incêndio de Monte Mor e outras centenas de ocorrências industriais que ocorrem no país evidenciam a necessidade urgente de uma legislação mais ampla para promover a segurança”, alerta.

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