Coluna Nutrição Além do Prato
O que vem depois do Mounjaro?
Por que o tratamento não termina quando a balança desce
Medicamentos como a tirzepatida, conhecida como Mounjaro,
mudaram o cenário do tratamento da obesidade. Estudos recentes mostram que
pessoas com sobrepeso ou obesidade podem perder entre 15% e 20% do peso
corporal quando o medicamento é associado a mudanças estruturadas no estilo de
vida. O impacto vai além da estética, com melhorias importantes em glicemia,
colesterol, pressão arterial e qualidade de vida. Mas uma pergunta permanece:
depois que o peso diminui, o que acontece?
Antes de falar sobre a manutenção, é importante esclarecer
quem realmente tem indicação para usar esse tipo de medicamento. A tirzepatida
é indicada para adultos com obesidade ou para quem tem sobrepeso associado a
condições como pressão alta, colesterol elevado, resistência à insulina,
diabetes tipo 2 ou apneia do sono. Ela não é indicada para menores de 18 anos
nem deve ser utilizada como ferramenta estética ou sem acompanhamento
profissional. O núcleo do tratamento continua sendo alimentação ajustada,
atividade física regular e acompanhamento multidisciplinar. O medicamento entra
como um recurso que pode ser utilizado quando necessário, e não como algo
obrigatório ou central.
Essa visão é fundamental porque a obesidade é uma doença crônica
que envolve fatores biológicos, comportamentais e ambientais. Quando a pessoa
emagrece, o corpo passa por uma série de ajustes naturais. O gasto calórico
tende a diminuir, a fome pode aumentar e hormônios que regulam saciedade e
apetite se modificam. Isso não tem relação com força de vontade, mas com
mecanismos de defesa do organismo. Pesquisas mostram que, quando o medicamento
é suspenso sem que hábitos tenham sido construídos, o peso tende a retornar,
muitas vezes acompanhado da piora dos marcadores metabólicos. A principal
mensagem é que o remédio pode ajudar no processo, mas não resolve sozinho.
É por isso que o que acontece durante o uso é tão
determinante para o que virá depois. A manutenção do peso depende da construção
de hábitos sólidos. Alimentação que promova saciedade, preserve massa magra e
se encaixe na rotina. Rotina organizada. Sono de qualidade. Gerenciamento do
estresse. E especialmente o treino de força, que é uma das ferramentas mais
importantes para preservar o metabolismo, proteger a massa muscular e evitar o
efeito sanfona.
O medicamento não substitui esses pilares. Ele atua como um
apoio temporário que facilita o processo inicial, reduz o apetite e ajuda a
pessoa a entrar no eixo. Mas o tratamento precisa ser acompanhado para que
doses, tempo de uso e ajustes sejam definidos de forma individual. O objetivo é
que o medicamento seja um suporte dentro de uma estratégia completa e
personalizada, e não uma solução permanente.
O maior risco aparece quando a tirzepatida é utilizada como atalho,
sem mudanças de comportamento e sem apoio profissional. Nesse cenário, a perda
de peso é geralmente passageira. Ao interromper o tratamento, o corpo tende a
retomar o padrão anterior, e muitas vezes o peso volta rapidamente, acompanhado
da sensação frustrante de “descontrole”. Por isso, o foco não deve estar apenas
no peso que se perde, mas no que se constrói ao longo do caminho.
Em resumo, o Mounjaro trouxe avanços importantes para o
tratamento da obesidade. Ele abre portas, facilita o processo e ajuda a reduzir
barreiras fisiológicas. Mas o que garante o resultado duradouro não é a caneta
e sim o conjunto de hábitos, comportamentos e escolhas que sustentam o novo
peso. O medicamento pode iniciar a mudança, mas a continuidade depende da
rotina e das estratégias bem definidas para cada pessoa. Tratar obesidade não é
uma fase, é um cuidado contínuo que se fortalece todos os dias.
Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva,
formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP
(Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de
vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de
uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia
alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na
clínica Centerclin, em Sumaré.

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