Cultura
Mostra Sobre o Papel da Pele pode ser visitada entre 24 de novembro e 5 de dezembro na Câmara de Americana

Fanny Deltreggia assina exposição a partir de técnica inédita em Americana

Quais são as marcas da escravidão e do racismo na identidade brasileira? A partir dessa inquietação carregada de reflexão, a artista Fanny Deltreggia concebeu a exposição individual Sobre o Papel da Pele, em cartaz a partir de segunda-feira (24), na Câmara Municipal de Americana, com visitação gratuita até 5 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Composta por 24 trabalhos, a mostra busca aprofundar a reflexão sobre as identidades e a história brasileira, a partir da investigação das marcas profundas deixadas pela escravidão e pelo racismo. As obras, realizadas em lápis grafite, assemblage, aquarela e por meio de uma técnica inédita desenvolvida pela própria artista: a ablação do papel carbono, revelam um processo de pesquisa intenso, marcado pelo estudo e pela experimentação.

“Durante muito tempo trabalhei apenas com lápis grafite. Era a forma que melhor expressava o que eu sentia e pensava. Mas, de uns tempos pra cá, senti a necessidade de experimentar outros materiais e suportes. Queria que o tema da minha arte ganhasse novas camadas, novas formas de aparecer. Foi aí que encontrei o papel carbono e, a partir dele, comecei a desenvolver uma técnica inédita: a ablação do papel carbono”, destaca Fanny Deltreggia.

A técnica, segundo a artista, dialoga diretamente com a essência da exposição. “O papel carbono faz alusão às marcas transferidas de geração em geração, tão enraizadas em nossa sociedade que mal conseguimos enxergá-las. A técnica da ablação (remoção da tinta) metaforiza o desvelar de camadas da história que foram propositalmente escondidas ou naturalizadas, convidando o observador a ir além da superfície e a confrontar essas cicatrizes. Com a ablação, busco dar luz ao que estava escondido, revelar o que, muitas vezes, passa despercebido”, explica.

A curadora Regiane Moreira ressalta que Sobre o Papel da Pele nos convida a adentrar o universo sensível e contundente de uma jovem artista branca que, ao tornar-se mãe de uma menina negra, viu sua escuta, seu corpo e sua prática artística tomados por uma nova consciência: “a urgência de confrontar o racismo estrutural não como uma abstração, mas como uma presença íntima, cotidiana e inegociável. Assim, as obras reunidas não são apenas expressões estéticas, são dispositivos de denúncia, memória e afeto. Elas operam como espelhos e feridas abertas, revelando as camadas invisíveis de uma história que insiste em se esconder sob a superfície da modernidade brasileira”.

Fanny Deltreggia é artista especializada na linguagem do desenho pela técnica do lápis grafite e graduanda em Bacharelado em Artes Visuais. Vive e trabalha em Americana. Participou de diversas exposições coletivas ao longo de sua trajetória, entre elas o Salão de Artes Visuais de Vinhedo e o Salão de Artes Professor Ernesto Quissak & Quissak Júnior, em Guaratinguetá.


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