Fanny Deltreggia assina exposição a partir de técnica inédita em Americana
Quais são as marcas da escravidão e do racismo na identidade
brasileira? A partir dessa inquietação carregada de reflexão, a artista Fanny
Deltreggia concebeu a exposição individual Sobre o Papel da Pele, em cartaz a
partir de segunda-feira (24), na Câmara Municipal de Americana, com visitação
gratuita até 5 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Composta por 24 trabalhos, a mostra busca aprofundar a
reflexão sobre as identidades e a história brasileira, a partir da investigação
das marcas profundas deixadas pela escravidão e pelo racismo. As obras,
realizadas em lápis grafite, assemblage, aquarela e por meio de uma técnica
inédita desenvolvida pela própria artista: a ablação do papel carbono, revelam
um processo de pesquisa intenso, marcado pelo estudo e pela experimentação.
“Durante muito tempo trabalhei apenas com lápis grafite. Era
a forma que melhor expressava o que eu sentia e pensava. Mas, de uns tempos pra
cá, senti a necessidade de experimentar outros materiais e suportes. Queria que
o tema da minha arte ganhasse novas camadas, novas formas de aparecer. Foi aí
que encontrei o papel carbono e, a partir dele, comecei a desenvolver uma
técnica inédita: a ablação do papel carbono”, destaca Fanny Deltreggia.
A técnica, segundo a artista, dialoga diretamente com a
essência da exposição. “O papel carbono faz alusão às marcas transferidas de
geração em geração, tão enraizadas em nossa sociedade que mal conseguimos
enxergá-las. A técnica da ablação (remoção da tinta) metaforiza o desvelar de
camadas da história que foram propositalmente escondidas ou naturalizadas,
convidando o observador a ir além da superfície e a confrontar essas
cicatrizes. Com a ablação, busco dar luz ao que estava escondido, revelar o
que, muitas vezes, passa despercebido”, explica.
A curadora Regiane Moreira ressalta que Sobre o Papel da
Pele nos convida a adentrar o universo sensível e contundente de uma jovem
artista branca que, ao tornar-se mãe de uma menina negra, viu sua escuta, seu
corpo e sua prática artística tomados por uma nova consciência: “a urgência de
confrontar o racismo estrutural não como uma abstração, mas como uma presença
íntima, cotidiana e inegociável. Assim, as obras reunidas não são apenas
expressões estéticas, são dispositivos de denúncia, memória e afeto. Elas
operam como espelhos e feridas abertas, revelando as camadas invisíveis de uma
história que insiste em se esconder sob a superfície da modernidade
brasileira”.
Fanny Deltreggia é artista especializada na linguagem do
desenho pela técnica do lápis grafite e graduanda em Bacharelado em Artes
Visuais. Vive e trabalha em Americana. Participou de diversas exposições
coletivas ao longo de sua trajetória, entre elas o Salão de Artes Visuais de
Vinhedo e o Salão de Artes Professor Ernesto Quissak & Quissak Júnior, em
Guaratinguetá.

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