Economia
Meta é atrair até R$ 2 tri em investimentos nos próximos dez anos; regime terá vigência inicial de 5 anos

Data centers devem impulsar região com regime especial de tributação

Nova política nacional prevê incentivos fiscais para o setor de tecnologia e deve acelerar investimentos bilionários;  cidades como Hortolândia, Sumaré e Paulínia já abrigam megaprojetos bilionários em fase de instalação ou operação

A assinatura da MP (Medida Provisória) que cria o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata), realizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deve trazer impactos diretos para a região, já conhecida como “polo de data centers” devido aos novos empreendimentos de Sumaré, Hortolândia e Paulínia.

O programa integra a Política Nacional de Data Centers (PNDC) e se insere na Nova Indústria Brasil (NIB), dentro da missão voltada à transformação digital. O objetivo é impulsionar setores estratégicos da chamada Indústria 4.0, como inteligência artificial, internet das coisas, computação em nuvem e automação industrial, ampliando a capacidade nacional de armazenamento e gestão de dados.

Segundo o governo, o Redata estabelece incentivos fiscais, mas também impõe contrapartidas às empresas, como investimentos em pesquisa, inovação e compromissos ambientais. A medida é vista como um marco para a expansão do setor de tecnologia no país.

A MP garante isenção de PIS/Pasep, Cofins e IPI para aquisição de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação, nacionais ou importados, utilizados na construção e manutenção de data centers. Equipamentos sem produção nacional similar também ficarão livres do imposto de importação.

Em troca, as empresas beneficiadas terão de investir 2% do valor dos equipamentos adquiridos em projetos de pesquisa e desenvolvimento, além de garantir que 10% da capacidade de processamento e armazenamento seja destinada ao mercado interno.

Nos empreendimentos instalados em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, essas exigências serão reduzidas em 20%, como forma de estimular a desconcentração regional. Outro ponto central será o cumprimento de metas ambientais, como uso de energia renovável e eficiência no consumo de água. O não cumprimento das regras resultará na perda dos benefícios fiscais, além de multa e restrições futuras.

IMPACTO REGIONAL

A assinatura da MP tem efeito sobre a região, considerada atualmente o maior polo de investimentos do setor no Brasil. Cidades como Hortolândia, Sumaré e Paulínia já abrigam megaprojetos bilionários em fase de instalação ou operação.

Hortolândia abriga unidades da ODATA, além da construção de duas plantas da Microsoft e de um centro da Ascenty. Os investimentos somam bilhões de reais e consolidam o município como centro estratégico de tecnologia.

Sumaré recebeu a confirmação de um projeto de R$ 5 bilhões, anunciado pelo grupo Aurea Finvest, voltado à criação de um complexo industrial e tecnológico próximo à Rodovia dos Bandeirantes. Além disso, é alvo da construção de data center da Microsoft.

Paulínia está em destaque nacional com a construção do maior empreendimento do setor no Hemisfério Sul. A multinacional CloudHQ investe R$ 15,6 bilhões em um data center de hiperescala. O projeto deve gerar mil empregos apenas na fase de obras.

MERCADO EM EXPANSÃO

De acordo com estudo da consultoria JLL, o mercado brasileiro de data centers movimenta atualmente cerca de US$ 4,6 bilhões. A região de Campinas lidera esse crescimento, superando polos tradicionais como Barueri e Rio de Janeiro. Entre os fatores que explicam a preferência das empresas estão a disponibilidade de energia renovável a custos competitivos, áreas para construção e a infraestrutura de cabos submarinos que garantem conexão internacional.

O Brasil ocupa a 10ª posição mundial em participação relativa no mercado global de data centers, ficando atrás de países como Japão e Holanda. A expectativa é que o Redata ajude a reposicionar o país no mapa internacional do setor.

Durante cerimônia recente em Brasília, Lula destacou que o Brasil precisa deixar de ser apenas exportador de matérias-primas e commodities para se tornar referência em inteligência e inovação tecnológica.

“Ao impulsionar os data centers, o Brasil impulsiona toda a cadeia digital. Nossa meta é fazer do país um exportador de inteligência e pesquisa, sempre com inclusão social e respeito ao meio ambiente”, afirmou.

R$ 2 TRILHÕES

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou que a iniciativa pode atrair até R$ 2 trilhões em investimentos nos próximos 10 anos, com ganhos em emprego, produtividade e inovação.

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que a medida fortalece a soberania digital, uma vez que hoje apenas 40% dos dados brasileiros são processados dentro do país.

O Redata terá validade de cinco anos, em sintonia com a Reforma Tributária, que entrará em vigor gradualmente a partir de 2027. O programa conta com R$ 5,2 bilhões reservados para sua implementação.

Nos próximos meses, o governo deve publicar as regulamentações complementares que definirão os critérios técnicos de sustentabilidade e os mecanismos de acompanhamento das contrapartidas.

SETOR PRIVADO COMEMORA CRIAÇÃO DE INCENTIVOS DO REDATA

O anúncio da Política Nacional de Data Centers (Redata) foi recebido com entusiasmo por representantes do setor de tecnologia. Para líderes empresariais e associações, a medida provisória abre caminho para que o Brasil se posicione como um dos principais polos de infraestrutura digital do mundo, ampliando a competitividade e criando novas oportunidades de expansão econômica.

A Associação Brasileira de Data Centers (ABDC) classificou a iniciativa como “um passo decisivo” para consolidar o país como referência global em serviços digitais. Em comunicado, o presidente da entidade, Renan Lima Alves, e o vice-presidente, Luis Tossi, destacaram que a política terá reflexos diretos na geração de empregos qualificados, no fortalecimento da rede de fornecedores e na ampliação da infraestrutura digital.

A associação reforçou ainda que a aprovação parlamentar será essencial para garantir estabilidade regulatória e atrair novos investimentos.

A Brasscom, entidade que reúne empresas de tecnologia da informação e comunicação, avaliou o movimento de forma positiva, mas ressaltou que ainda é preciso conhecer os detalhes do texto final.

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