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Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva e atua na promoção da saúde e qualidade de vida

Coluna Nutrição Além do Prato

Entendendo as categorias dos alimentos: da natureza ao ultraprocessamento

Falar sobre alimentação saudável exige que a gente entenda uma das classificações mais importantes e usadas hoje no mundo: a categoria dos alimentos segundo o grau de processamento. Esse sistema, criado por pesquisadores brasileiros, ajuda a diferenciar o que vem diretamente da natureza do que passa por diversos processos industriais e recebe aditivos. Com isso, conseguimos fazer escolhas mais conscientes, sem medo e sem terrorismo nutricional.

Os alimentos in natura são aqueles que vêm diretamente da natureza, sem qualquer interferência. Frutas, legumes, verduras, carnes frescas, ovos, leite e raízes entram nessa categoria. São ricos em nutrientes e formam a base de uma alimentação equilibrada.

Já os alimentos minimamente processados passam apenas por processos simples, como limpeza, moagem, pasteurização, secagem ou congelamento. Esses procedimentos servem apenas para facilitar o consumo ou aumentar a durabilidade, mantendo a composição praticamente igual ao alimento original.

Arroz, feijão seco, iogurte natural, vegetais congelados e frutas secas sem açúcar são alguns exemplos. Quando falamos em alimentos processados, já existe a adição de ingredientes culinários, como sal, açúcar ou óleo. Ainda assim, a base continua sendo um alimento in natura ou minimamente processado.

É o caso de pães tradicionais preparados apenas com farinha, água, fermento e sal, ou de queijos e conservas. Eles podem fazer parte da rotina sem problema, desde que consumidos com moderação. A maior diferença aparece nos ultraprocessados.

Esses produtos passam por múltiplos processos industriais e são formulados com substâncias que você não teria na sua cozinha, como estabilizantes, corantes, aromatizantes e emulsificantes. São práticos, saborosos e duram muito, mas exatamente por isso tendem a ser consumidos em excesso.

Exemplos comuns são refrigerantes, biscoitos recheados, snacks, macarrão instantâneo, bebidas lácteas adoçadas e embutidos. O consumo frequente está associado a maior risco de obesidade, doenças cardiovasculares e inflamação crônica.

É aqui que surge uma confusão muito comum: industrializado não é sinônimo de ultraprocessado. Industrializado é qualquer alimento produzido com algum nível de processamento dentro da indústria, desde o leite pasteurizado até o empacotamento do arroz. Ou seja: nem todo industrializado é ruim, e muitos deles são excelentes aliados na rotina. Já os ultraprocessados são um tipo específico de industrializado, caracterizados pelo alto grau de modificação e pelo uso de ingredientes que não teríamos em casa.

Todo ultraprocessado é industrializado, mas a recíproca não é verdadeira. Um iogurte natural, por exemplo, é industrializado, mas minimamente processado; já um “iogurte sabor morango” cheio de açúcar e corante é ultraprocessado.

Compreender essas categorias é fundamental porque a ciência mostra de maneira consistente que dietas baseadas em alimentos in natura e minimamente processados estão associadas a melhor saúde, controle de peso, mais energia e menor risco de doenças crônicas. Não se trata de demonizar alimentos, mas de equilibrar a rotina: a base deve ser composta por alimentos de verdade, enquanto processados entram com moderação e ultraprocessados aparecem com parcimônia.

Quando sabemos diferenciar o que estamos colocando no prato, conseguimos fazer escolhas mais inteligentes, práticas e sustentáveis. Informação clara é o primeiro passo para uma alimentação mais consciente e uma relação mais leve com a comida.

Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva, formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP (Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na clínica Centerclin, em Sumaré.

 

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