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Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva e atua na promoção da saúde e qualidade de vida

Coluna Nutrição Além do Prato

Creatina sem mistério: benefícios, uso correto e mitos mais comuns

A creatina é um dos suplementos mais falados dos últimos anos e, mesmo assim, muitas pessoas começam a usá-la sem entender exatamente o que ela faz. É comum encontrar quem tome apenas porque ouviu dizer que “é bom”, porque um amigo começou ou porque viu alguém na academia usando. Essa popularização levanta uma pergunta importante: o que realmente sabemos sobre a creatina e quando ela faz sentido na rotina?

A creatina é uma substância produzida pelo nosso próprio corpo e também obtida por meio de alimentos como carnes e peixes. Sua principal função é ajudar na reposição rápida da energia utilizada pelos músculos durante esforços intensos. Ela atua no sistema responsável por regenerar o ATP, que é a principal fonte de energia muscular. Quando os estoques de ATP caem, a creatina atua como apoio imediato para o músculo continuar funcionando com potência.

Por esse mecanismo, a creatina é um dos suplementos mais estudados e com maior evidência científica. Seus benefícios são bem estabelecidos para quem busca melhora de força, potência e desempenho em treinos de alta intensidade. Além disso, ela pode favorecer o aumento de massa muscular ao longo do tempo, principalmente quando combinada a treinos regulares. Hoje também se reconhece sua utilidade em pessoas que não têm objetivos esportivos específicos, como idosos, indivíduos em reabilitação, pessoas com dietas restritas ou qualquer situação em que a preservação da massa muscular seja importante.

O uso é simples e sua eficácia depende da constância. A dose mais estudada e recomendada é de três a cinco gramas por dia. O horário não influencia de forma significativa e o ponto principal é manter o uso diário para que os músculos atinjam a saturação. A forma monohidratada é considerada o padrão ouro por ser a mais estudada e segura. Não existe necessidade de fazer fase de carga e a suplementação funciona melhor quando acompanhada de hidratação adequada e uma alimentação equilibrada.

Apesar dos benefícios, o suplemento não é uma solução mágica e nem sempre precisa ser prioridade. Antes de começar a usar, vale refletir sobre seus objetivos, sua regularidade nos treinos, seu padrão alimentar e sua rotina de descanso. Sem esses pilares, a creatina pode até funcionar, mas não terá o efeito que se espera. Entender por que usar é tão importante quanto saber como usar.

Mitos também fazem parte dessa conversa. Um dos mais comuns é a ideia de que a creatina faz mal aos rins. Em pessoas saudáveis, isso não é verdade. Estudos de longo prazo mostram segurança no uso contínuo. Já em casos de doença renal, o suplemento deve ser avaliado individualmente. Outro mito frequente é o medo de retenção de líquidos no sentido estético negativo. O que acontece na prática é um aumento de água dentro da célula muscular, algo associado a melhor desempenho e maior capacidade de gerar força. Também não procede a ideia de que a creatina engorda, já que ela não possui calorias e não aumenta gordura corporal.

A creatina é uma ferramenta valiosa, segura e bem estudada, desde que utilizada com propósito e orientação. Usá-la sem entender o porquê transforma um suplemento útil em apenas mais uma tendência. Quando compreendemos seu mecanismo, seu uso adequado e seu papel dentro de um plano maior que inclui treino, alimentação e descanso, ela deixa de ser moda e passa a ser ciência aplicada à saúde e ao desempenho.

Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva, formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP (Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na clínica Centerclin, em Sumaré.

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