Coluna Justiça em Foco
Operação da Polícia Federal em Hortolândia investiga fraudes
em contratos
Nos últimos dias, a Região Metropolitana de Campinas foi
palco de uma das maiores ações policiais realizadas este ano no interior
paulista. A Polícia Federal, com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU),
Polícia Militar e aval da 1ª Vara Federal de Campinas, deflagrou uma operação
que busca esclarecer um suposto esquema de fraudes em licitações envolvendo
diversos municípios, empresas e agentes públicos.
A operação chamou atenção pela amplitude: só na região, 19
mandados de busca e apreensão e 3 mandados de prisão preventiva foram
cumpridos, atingindo prefeituras, secretarias municipais, arquivos públicos,
empresas privadas e residências de investigados.
Entre os alvos está o vice-prefeito de Hortolândia, que teve prisão preventiva decretada, além do secretário de Educação do município. Outras autoridades e servidores foram afastados, investigados ou tiveram seus bens e documentos recolhidos.
Por que a operação ocorreu?
Segundo a Polícia Federal, a investigação apura possíveis
irregularidades em contratos públicos relacionados à aquisição de materiais
didáticos, equipamentos de tecnologia educacional e kits de robótica. O foco
recai especialmente sobre contratos celebrados com uma empresa específica,
investigada por supostas fraudes, direcionamento de processos licitatórios,
superfaturamento e desvio de recursos.
Além de Hortolândia, diligências ocorreram em Sumaré, Limeira, Americana, Piracicaba e no Distrito Federal. Assim, a operação não mira apenas um município, mas um eventual esquema com ramificações regionais, envolvendo tanto gestores públicos quanto fornecedores.
Mandados de busca: uma etapa investigativa, não uma
condenação
Apesar do impacto político e social, é essencial compreender
juridicamente o que significa ser alvo de busca e apreensão.
Um mandado de busca:
• não representa culpa
• não significa que o investigado será denunciado
• não determina que houve crime
Ele é autorizado pelo Judiciário para permitir que investigadores
recolham documentos, computadores, celulares e arquivos que possam esclarecer
os fatos.
Muitas pessoas, inclusive empresários, contadores, diretores de escola, servidores e fornecedores podem ser alvos dessa medida sem que tenham cometido qualquer ilegalidade, apenas por terem participado de processos administrativos relacionados às licitações investigadas.
O que acontece após a busca e apreensão?
Depois da coleta de documentos, a PF:
• realiza perícias em computadores e celulares,
• cruza dados com notas fiscais, contratos e processos
administrativos,
• ouve depoimentos de servidores, fornecedores e gestores,
• estrutura os elementos que podem, ou não, justificar
futuras denúncias.
É nesse momento que cada palavra dita importa, e qualquer documento mal explicado pode ser interpretado de forma equivocada.
A importância do silêncio e da orientação jurídica
Em momentos como este, a recomendação jurídica não muda:
• Exercite o direito constitucional ao silêncio até a
presença de um advogado.
• Não assine declarações sem orientação técnica.
• Organize comprovantes, contratos, e-mails e documentos que
demonstrem a regularidade das suas ações.
Uma frase mal colocada pode gerar consequências sérias, como imputação de responsabilidade por atos que a pessoa sequer participou.
Por que a operação preocupa empresas da região?
A legislação de licitações e contratos (Lei 14.133/2021) é
extensa, técnica e cheia de detalhes. Na prática, empresas que fornecem
materiais, prestam serviços educacionais, vendem tecnologia ou participam de
registros de preços podem:
• ser chamadas para esclarecimentos;
• ter contratos revisados;
• ter pagamentos suspensos;
• sofrer investigações internas;
• enfrentar bloqueio de bens ou quebra de sigilos,
dependendo do caso.
Mesmo quando atuam de forma completamente legal, o simples
fato de constarem em processos investigados já traz risco reputacional.
Essa situação reforça a importância da defesa preventiva, que nada mais é do que a preparação jurídica antes que um problema se agrave.
E os efeitos políticos?
A operação repercute fortemente no cenário político local. Em Hortolândia, a prisão do vice-prefeito gera impacto direto na administração e tensiona o ambiente político. Já em cidades como Sumaré e Limeira, embora as gestões atuais afirmem que os contratos sob investigação foram assinados por administrações anteriores, a operação reacende discussões sobre transparência e governança.
O fato é que operações da PF, mesmo quando não resultam em
condenação, costumam:
• desgastar politicamente gestores,
• comprometer a imagem de empresas,
• influenciar decisões administrativas e licitações futuras,
• provocar mudanças internas nos municípios.
Como se proteger diante de uma investigação?
Se você é servidor público, empresário ou fornecedor de
prefeituras e foi citado, intimado, alvo de busca ou envolvido por estar em algum
processo investigado os passos essenciais são:
1. Consultar imediatamente um advogado criminalista ou
especialista em direito público.
2. Evitar declarações espontâneas, mesmo diante de pressão.
3. Reunir provas de boa-fé e regularidade, como contratos,
relatórios e comprovantes de entrega.
4. Manter total cautela com documentos apreendidos, eles serão analisados e podem embasar futuras acusações ou inocentações.
Conclusão: o alerta que fica para toda a região
A megaoperação na região de Campinas é um sinal claro de que os órgãos de fiscalização estão atuando de forma mais intensa, articulada e tecnicamente estruturada para combater possíveis fraudes em contratos públicos.
Mas, do ponto de vista jurídico, também evidencia algo
fundamental:
• investigação não é condenação,
• mandado não é prova de culpa,
• e a melhor defesa começa antes de qualquer acusação
formal.
Se há risco de envolvimento, mesmo indireto, a orientação
jurídica especializada é a ferramenta essencial para proteger a liberdade, o
patrimônio, a imagem e o futuro profissional.
Fique atualizado sobre as principais notícias relacionadas
ao mundo jurídico, acompanhando nossa coluna “Justiça em Foco”. Até a próxima!
Welson Soares é graduado em Direito, atua como advogado Criminal no Escritório Andressa Martins Advocacia em Sumaré/SP, Pós graduado em Direito Penal e Processo Penal. Formado em cursos de aperfeiçoamento na área criminal pela USP (Universidade de São Paulo) e PUC-RS e cursos de extensão pela OAB ESA FGV (Fundação Getúlio Vargas). Colunista do “’Justiça em Foco” do Jornal Tribuna Liberal; Vice Presidente da comissão Jovem Advocacia da OAB Sumaré; Membro e coordenador do Núcleo de Direito Criminal OAB Sumaré.

Deixe um comentário