Política
Após inquérito policial, MP aponta suposta cobrança de propina para liberação de serviços

Ex-secretário e ex-chefe de Planejamento de Monte Mor são alvos de ação de enriquecimento ilícito

Claudinei Rodrigues e Wilson Sobral teriam cobrado propina de jardineiro para liberar serviços ambientais; pagamentos em PIX e espécie foram exigidos sob ameaça de multas e ações da Polícia Ambiental, afirma Promotoria de Justiça

O Ministério Público ingressou com ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra dois ex-integrantes do alto escalão da Prefeitura de Monte Mor. Wilson Amorim Sobral, ex-chefe de Planejamento, e Claudinei Aparecido Rodrigues, ex-secretário municipal de Meio Ambiente e Agricultura, ligados à gestão Edivaldo Brischi (PSD), são acusados de exigirem propina de prestadores de serviço como condição para a liberação de autorizações ambientais, especialmente licenças para poda de árvores no município. Ambos já respondem a uma ação criminal sobre o caso e também foram processados na esfera cível.

As investigações se baseiam em denúncia formal apresentada pelo jardineiro Rafael Donizete Rodrigues, que relatou ter sido coagido pelos ex-servidores a realizar pagamentos indevidos — batizados de “cafezinho” pelos próprios réus. Segundo os autos, foram identificadas transferências via PIX nos valores de R$ 200 e R$ 500 para a conta de Wilson Sobral, como condição para que o denunciante pudesse continuar atuando legalmente em sua profissão. A Promotoria também afirma que outras quantias foram entregues em espécie, embora não haja registro bancário.

Segundo a Promotoria, o caso se agravou no dia 29 de maio de 2024, quando Claudinei Rodrigues teria ameaçado diretamente o denunciante em uma reunião presencial, exigindo o pagamento de R$ 3.000 sob pena de multa de R$ 150 mil e envolvimento da Polícia Ambiental — inclusive utilizando o nome da esposa da vítima como alvo da retaliação. Além da suposta prática de extorsão, a Promotoria identificou uma tentativa de intimidação pública do denunciante, ao ter seu nome exposto em redes sociais oficiais da prefeitura. O MP chegou a emitir recomendação formal para que a publicação fosse removida.

Na ação civil pública, a promotora Cristiane de Morais Ribeiro Sampaio Carvalhaes de Camargo fundamenta o caso no artigo 9º da Lei nº 8.429/92, que trata de enriquecimento ilícito por parte de agentes públicos, e requer aplicação de sanções como perda da função pública (se for o caso), suspensão dos direitos políticos por 14 anos, multa civil, e proibição de contratar com o poder público pelo mesmo período.

A Promotoria diz ainda que os acusados agiram com dolo, consciência e vontade, agravando o cenário pelo fato de que a vítima se encontrava em condição de vulnerabilidade e os cargos ocupados pelos réus exigiam conduta ética e protetiva ao meio ambiente e à população. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos acusados.

Ex-agentes públicos respondem ação criminal sobre o caso

Em maio, o Tribuna Liberal noticiou que a Justiça de Monte Mor aceitou denúncia criminal contra Wilson Amorim Sobral e Claudinei Aparecido Rodrigues, que respondem por concussão, por supostamente exigirem vantagens indevidas durante o exercício dos cargos públicos. A denúncia foi recebida pelo juiz Gustavo Nardi, da 1ª Vara Criminal, que considerou haver “justa causa e elementos suficientes” no inquérito policial para o início da ação penal.

Em junho de 2024, uma denúncia abalou o governo municipal de Monte Mor. Em um boletim de ocorrência registrado, Rafael Donizete Rodrigues, do bairro Chácaras Pindorama, relatou à Polícia Civil que estava sendo vítima de extorsão por parte de funcionários da Secretaria de Meio Ambiente da cidade, incluindo o secretário da pasta.

Segundo o relato de Rafael à Polícia Civil, a situação se desenrolou com uma série de exigências financeiras ilegais para permitir a continuidade de seu trabalho de poda e remoção de árvores na cidade. Ele afirmou que, ao procurar o Fórum de Monte Mor, denunciou o suposto crime à Promotoria, mencionando especificamente que dois funcionários da Secretaria de Meio Ambiente estariam envolvidos nas supostas práticas ilegais.

Rafael relatou que os funcionários dificultavam deliberadamente seu trabalho, exigindo pagamentos que variavam de R$ 50 a R$ 3 mil. Esses valores, segundo ele, eram pagos em dinheiro e via PIX, sempre em locais marcados previamente.

Rafael afirmou que o ex-secretário o ameaçou, dizendo que, se não pagasse R$ 3 mil, ele seria denunciado à Polícia Ambiental por realizar um serviço mal feito e poderia ser multado.

MP diz que é ‘pernicioso’ que acusados tenham vínculo com administração

A Promotoria de Monte Mor afirmou que considera “pernicioso” que os acusados tenham “qualquer vínculo com a administração”. “Os ora requeridos cobravam valores para a liberação dos serviços de poda e supressão de árvores no município, ameaçando não emitir a devida autorização de serviço caso não houvesse o pagamento de vantagem indevida consistente em propina, chamada de ‘cafezinho’ por eles”, afirma o MP na ação.

“Não há dúvidas de que a ação praticada pelos requeridos violou a essência do texto constitucional, que se funda na dignidade da pessoa humana (…), ofendendo, ainda, os princípios da legalidade e principalmente da moralidade que sempre devem pautar a atuação do Administrador Público”, traz outro trecho.

“Houve intimidação de um prestador de serviços humilde, fato que macula a Administração Pública e faz crescer a descrença da população no Poder Público como um todo”, ainda diz o MP.

A Promotoria afirmou que houve dolo. “O dolo dos agentes está plenamente configurado, vez que agiram com consciência e vontade para a prática do ato ímprobo, em desfavor do humilde jardineiro que somente buscava exercer o seu mister”.

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