Política
Câmara de Monte Mor aprovou revogação do programa que garantia ônibus gratuitos desde 2024

Base do prefeito revoga Tarifa Zero em Monte Mor; vereadora afirma que Câmara é ‘vendida’

Por 13 votos a 2, vereadores derrubaram gratuidade no transporte público; oposição critica votação em regime de urgência especial, acusa submissão ao Executivo e diz que população é prejudicada

Em sessão polêmica na noite desta segunda-feira (8), a base do prefeito Murilo Rinaldo (PP) na Câmara de Monte Mor aprovou a revogação do programa Tarifa Zero, que garantia transporte público gratuito à população desde janeiro de 2024. O projeto foi aprovado por 13 votos a 2, após a apresentação de requerimento de urgência especial, de autoria de 12 vereadores. Durante a votação, a Casa foi acusada de estar “vendida” e ser um “puxadinho da prefeitura”.

A tramitação acelerada foi alvo de críticas. A vereadora Wal da Farmácia (PSB), intermediadora da implantação do programa na cidade, classificou a medida como “uma afronta ao povo” e disse que os parlamentares “brincam com a população”. Para ela, a votação em regime de urgência buscou impedir a presença de cidadãos no plenário.

“É muito triste ver uma Câmara vendida, um puxadinho da prefeitura. O Tarifa Zero quem vai perder é a população. Não esqueçam o nome desses vereadores que estão votando contra o povo”, disparou Wal. A vereadora também acusou Clair Gomes (PSB) de “trair o partido mais uma vez”.

Ela relatou ainda que vídeos com ataques pessoais circularam antes da votação e cobrou a instalação de uma comissão de ética. Wal disse que não foi chamada para dialogar com o Executivo sobre possíveis alternativas ao programa. “Em vez de tentar reestruturar, tiraram primeiro”.

No projeto, Murilo Rinaldo defendeu a revogação com base em questões financeiras. Segundo ele, o subsídio mensal de R$ 500 mil pago à concessionária Mov Monte Mor é insustentável e compromete investimentos em infraestrutura e melhorias no próprio transporte coletivo. “A sustentabilidade dessa política pública se revelou absolutamente inviável”, afirmou o prefeito.

Rinaldo argumenta que o retorno da cobrança permitirá ampliar linhas, melhorar a segurança e oferecer mais conforto aos passageiros. Ele também anunciou estudos para criar tarifas sociais voltadas a públicos vulneráveis, de forma a mitigar os impactos da decisão.

O Tarifa Zero foi instituído em dezembro de 2023, no fim da gestão do ex-prefeito Edivaldo Brischi (PSD), por meio da Lei 12.010/2023. No entanto, o programa já nasceu envolto em dívidas: a prefeitura deixou de pagar a concessionária por mais de quatro meses, acumulando passivo de R$ 2,5 milhões. Em janeiro, a gestão Rinaldo anunciou o parcelamento da dívida, mas manteve a gratuidade até então.

Com a decisão, Monte Mor deixará de oferecer transporte gratuito a milhares de moradores que usam o serviço para trabalhar e estudar. A votação, marcada por fortes discursos e acusações, deve ter novos desdobramentos políticos.

Foram favoráveis à retirada do Tarifa Zero os vereadores Alexandre Pinheiro, Andrea Garcia, Beto Carvalho, Camilla Hellen, Clair Gomes, Edson Silva, Josuel da Conceição, Milziane Menezes, Pavão da Academia, Professor Adriel, Renato Olivatto, Roger Santos e Bruno Leite. Foram contrários à proposta os vereadores Wal da Farmácia e João do Bar.

Favoráveis à retirada do Tarifa Zero

Alexandre Pinheiro

Andrea Garcia

Beto Carvalho

Camilla Hellen

Clair Gomes

Edson Silva

Josuel da Conceição

Milziane Menezes

Pavão da Academia

Professor Adriel

Renato Olivatto

Roger Santos

Bruno Leite

Contrários à retirada do Tarifa Zero

Wal da Farmácia

João do Bar

Relator diz que gratuidade no transporte será mantida para inscritos no CadÚnico

O Projeto de Lei (PL) de autoria da prefeitura que revogou o Tarifa Zero, de gratuidade no transporte público municipal, contou com a relatoria do vereador Professor Adriel (PDT), na Câmara. Em discurso no Plenário da Casa, antes da votação realizada na sessão ordinária desta segunda-feira (8), o parlamentar afirmou que os vereadores estavam, na verdade, “dando um passo em direção à reestruturação desse programa”.

Adriel citou um ofício endereçado ao prefeito, assinado por ele e por Camilla Hellen (Republicanos), Edson Silva (PL), Josuel da Conceição (PSD), Alexandre Pinheiro (Republicanos), Renato Olivatto (PSDB), Milziane Menezes (MDB), Andrea Garcia (PSD) e pelo presidente Beto Carvalho (PP), no qual pedem que “a política de gratuidade no transporte continue para as pessoas em situação de pobreza, que são mais de 10,8 mil pessoas, segundo o CAdÚnico” - além de ser mantida para os demais grupos sociais previstos em lei.

“Em segundo lugar, não menos importante, nós vamos começar uma escalada para que o município tenha condições de ter o Tarifa Zero, plenamente, para toda a sociedade, com a devida estruturação”, completou o parlamentar, em seu pronunciamento na sessão plenária, destacando que não se trata de uma medida “simples”, já que a manutenção do programa de gratuidade nas passagens, “como está” atualmente, oneraria os cofres públicos, podendo ultrapassar os limites legais de gastos, levando à improbidade administrativa, por exemplo.

Na sessão da Câmara, Adriel ainda disse que leu o “rascunho” de um decreto do prefeito, a ser lançado, disciplinando a isenção do transporte público municipal “para as pessoas em situação de pobreza” – medida que também será fundamentada a partir de um PL que será remetido pelo Poder Executivo, à Câmara, ainda nesta semana. “Os que mais precisam, as pessoas em situação de pobreza, continuarão isentas”, garantiu, citando “a palavra que o prefeito Murilo Rinaldo empenhou a esse grupo de vereadores”.

Parecer 

Durante a leitura do seu parecer, o relator frisou que o Tarifa Zero é uma “importante política que nenhum popular deseja perder”. Destacou, ainda, que também não tinha o desejo de cessar o programa, mas destacou que a prefeitura tem listado “razões econômicas” para justificar a sua revogação, “devido à incapacidade financeira argumentada para a manutenção do programa”. Ele também comentou alguns pontos que justificam a medida.

“Todo custo da operação do transporte público atualmente recai sobre os cofres públicos, sem nenhuma solidariedade dos empresários da cidade, que não contribuem com o Fundo Municipal [de Transporte Urbano], que só existe na letra fria da Lei, e nem contribuem pela via da publicidade de suas marcas no sistema de transporte público”, afirmou Adriel, em um dos argumentos mencionados no Parecer.

O presidente da Câmara, Beto Carvalho (PP), afirmou que os vereadores “estão fazendo de fato um projeto que em pouco tempo” vai resolver o problema do transporte público de Monte Mor.      


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