Levantamento revela 102 lojas fechadas e Centro de Sumaré mais enfraquecido
Comércio central já enfrenta período crítico há alguns anos
e Tribuna Liberal identifica ao menos 102 imóveis fechados entre lojas,
escritórios e pontos comerciais nas principais ruas do Centro; placas de
‘Aluga-se’ se multiplicaram
O coração comercial de Sumaré vive um momento de
encolhimento ao longo dos últimos anos. Isso porque, um levantamento feito com
exclusividade pelo Tribuna Liberal nesta semana nas principais ruas do Centro
da cidade identificou ao menos 102 imóveis fechados entre lojas, escritórios e
pontos comerciais. As portas cerradas e as placas de “Aluga-se” se espalham por
diversas vias da região central, revelando um quadro de apreensão sobre o
futuro.
Os principais endereços atingidos pela onda de fechamentos
são a Rua José Maria Miranda, com 20 lojas fechadas; Rua Dom Barreto, com 13;
vias adjacentes somam 12; Rua Justino França, oito; Avenida Sete de Setembro,
seis; além de pontos isolados em diferentes logradouros: uma loja na Rua Pedro
Consulin, quatro na Rua Antônio do Valle Melo, duas na Rua Ipiranga, três na
Rua Bárbara Blumer, três na Rua Antônio Pereira de Camargo, 19 na Rua Antônio
Jorge Chebab, uma na Praça da República e 10 na Avenida José Mancini.
Em alguns casos, há imóveis há anos sem uso, com janelas
empoeiradas e fachadas deterioradas. Em outros, os donos sequer demonstram
interesse em reabrir os estabelecimentos. As placas de “Aluga-se” possuem
número considerável entre estabelecimentos fechados — e o aluguel, segundo
comerciantes, pesa no bolso.
“O comércio deu uma enfraquecida aqui no Centro. Pelas
pessoas, eu acho, que vão comprar fora, as pessoas não valorizam o comércio das
pessoas da cidade”, lamenta Luciele Arcelino da Silva, de 26 anos, moradora do
Jardim São Carlos.
O comerciante Reginaldo Almeida, de 53 anos, que atua há
mais de quatro décadas no conserto de micro-ondas, reforça a dificuldade de
manter o ponto. “Falta incentivo ao comércio. Há também a questão dos valores
dos aluguéis — às vezes o proprietário pede alto demais. Aqui nessa esquina
(Rua José Maria Miranda), há uma briga de família, então preferem deixar
fechado as lojas. Hoje é muito difícil começar no comércio. Eu só continuo
porque já tenho minha clientela fixa, o e-commerce também está muito forte”,
avaliou.
A Rua José Maria Miranda, que já foi uma das principais vias
do comércio sumareense, é um dos retratos mais visíveis da crise. Fachadas
pichadas, imóveis deteriorados e o constante silêncio das portas metálicas
fechadas dão o tom de abandono. Os aluguéis na via variam entre R$ 2,5 mil e R$
3 mil, valores que muitos consideram incompatíveis com o atual fluxo de
clientes. “A rua é vista como fora do Centro, mesmo estando dentro dele”, dizem
moradores.
Outros apontam que a Zona Azul também pode ter afastado
consumidores - hoje, a cidade está sem cobrança de estacionamento rotativo. “A
pessoa não quer pagar para parar cinco minutos, vai para o shopping ou para o
bairro. Isso pesa”, disse José Carlos Souza, de 44 anos, frequentador do
Centro. Por outro lado, há quem defenda a cobrança. “Acho justo pagar para
sempre ter vaga”, disse Marcilene Marcondes.
A Prefeitura de Sumaré informou que a revitalização da Rua José Maria Miranda está prevista na programação municipal. O projeto inclui melhorias na iluminação, reforço da segurança com mais rondas da Guarda Civil Municipal e medidas para combater pichações e vandalismo.
Sem Zona Azul
O prefeito Henrique do Paraíso (Republicanos) afirmou no
final de julho que não pretende retomar a Zona Azul, extinta recentemente. “A
população já paga impostos demais, não é justo colocar mais esse peso no bolso
do cidadão”, disse na época. Segundo ele, a administração está em diálogo com
comerciantes e a ACIAS (Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de
Sumaré) para buscar soluções “inteligentes e justas”.
Aluguel de imóveis comerciais no Centro de Sumaré chega a R$
8 mil
Os valores de locação de imóveis comerciais em Sumaré
continuam elevados, especialmente nas regiões próximas à Avenida Sete de
Setembro, uma das principais vias do Centro da cidade. De acordo com Gislaine
Ribeiro, da Atuale Imobiliária, os aluguéis nas travessas adjacentes à avenida
custam, em média, entre R$ 7 mil e R$ 8 mil mensais, para espaços de 200 a 250
metros quadrados.
Segundo a corretora, a alta dos preços tem dificultado o acesso de novos comerciantes ao mercado local. “Em Sumaré, no geral, os valores estão altos. Quem loca, às vezes, é porque não tem outra opção, mesmo no Centro. Os valores estão abusivos. Muitas vezes, o proprietário prefere deixar o imóvel fechado por ter um valor sentimental, em vez de alugar por um preço mais baixo. Isso acaba deixando a cidade com um aspecto feio, com vários pontos comerciais vazios”, afirmou Gislaine.
A situação reflete um cenário comum em muitas cidades médias do interior paulista, onde o desequilíbrio entre oferta e demanda, aliado à valorização imobiliária e ao apego dos donos de imóveis, contribui para o aumento dos preços e a ociosidade de imóveis em áreas centrais.
ACIAS defende fortalecimento do comércio físico e acompanha
projeto de revitalização do Centro
A Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Sumaré
(ACIAS) avalia que o esvaziamento de lojas em áreas comerciais da cidade reflete
um fenômeno regional. Entre os fatores citados estão a consolidação do
e-commerce, mudanças no comportamento do consumidor no pós-pandemia — que
passou a comprar mais pela internet ou prioriza a conveniência de consumir
perto de casa — e o fechamento de agências bancárias.
Para enfrentar esse cenário, a nova gestão da entidade
ampliou ações de educação empresarial voltadas ao varejo físico. Segundo a
ACIAS, estão sendo ofertados cursos, palestras e treinamentos gratuitos para
aprimorar a gestão e o atendimento. A grade contempla temas variados, do
relacionamento com o consumidor ao uso de ferramentas de inteligência
artificial, com foco em produtividade e competitividade das lojas.
No campo urbano, a ACIAS afirma acompanhar de perto o
projeto da Prefeitura de Sumaré que prevê a revitalização da região central. A
entidade relata que tem apresentado sugestões e discutido soluções para
preservar o Centro, incluindo incentivos a proprietários de imóveis para obras
de manutenção e melhoria dos prédios, além de estratégias ligadas à segurança.
Em vias como a José Maria Miranda e Dom Barreto há muitas
lojas fechadas
“A consolidação do comércio eletrônico e as mudanças no perfil de consumo impactam as áreas tradicionais, mas há um público expressivo que continua preferindo comprar presencialmente. Nosso papel é fortalecer esse ecossistema”, afirma Selma Koshoji, presidente da ACIAS.
Sumaré avança em estudos para requalificar a Av. Sete de
Setembro
A Prefeitura de Sumaré informou que estão em andamento os
estudos técnicos e a elaboração do projeto de requalificação da Avenida Sete de
Setembro, uma das principais vias da região central. O objetivo é valorizar o
comércio local, ampliar a mobilidade e aumentar a segurança e o conforto de
pedestres e motoristas.
Como primeira ação, a Administração Municipal realizou a
retirada da Zona Azul, medida que atende a uma demanda antiga de moradores e
comerciantes. Segundo o Executivo, a decisão reforça o compromisso de ouvir a
comunidade e construir soluções participativas para o trânsito e o uso dos
espaços públicos.
Região central de Sumaré receberá incentivo do poder público municipal
O projeto segue em fase de estudos, com análises envolvendo
fluxo viário, acessibilidade e paisagismo urbano. A prefeitura mantém diálogo
permanente com a Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Sumaré
(ACIAS) e com representantes do comércio, a fim de assegurar que as futuras
intervenções atendam às necessidades reais da região central.
As melhorias previstas para a Avenida Sete de Setembro integram o planejamento de modernização do Centro de Sumaré, que busca conciliar desenvolvimento econômico, mobilidade urbana e qualidade de vida.
Sumaré tem vacância de imóveis, mas especialista acredita em
recuperação
Mais de 100 pontos comerciais permanecem fechados em Sumaré, refletindo uma combinação de fatores como os impactos da pandemia, o avanço do e-commerce, juros elevados e aluguéis desajustados. A crise reduziu o movimento nas ruas e inibiu novos investimentos, afetando a economia e a paisagem urbana da cidade.
No entanto, especialistas e comerciantes veem sinais de retomada. A esperada queda na taxa de juros deve facilitar o acesso ao crédito e estimular empreendedores a ocupar os espaços ociosos.
Proprietários também devem começar a flexibilizar valores de aluguel, buscando acordos mais realistas, segundo o corretor da AVM Imóveis, Jhonatan Oliveira, que atua no mercado imobiliário há 15 anos. “Sumaré está no coração de uma das regiões mais fortes e pujantes do Brasil, que é a RMC e isso garante que a cidade vai se reerguer”.
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