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Ober relatou à Justiça crise agravada por custos inflacionados, juros elevados e impacto da guerra na Europa

Ober recebe autorização para começar recuperação judicial em Nova Odessa

Uma das maiores indústrias da cidade, empresa têxtil avança em processo de recuperação judicial, abrindo período de proteção contra cobranças e execuções; objetivo é equalizar dívida de R$ 91,2 milhões; Ober emprega 1,4 mil trabalhadores e abastece diversos setores da economia

A Ober, tradicional indústria têxtil de Nova Odessa e responsável por empregar cerca de 1,4 mil trabalhadores, recebeu autorização da Justiça para seguir com a recuperação judicial. O pedido foi apresentado pela empresa no mês passado. A decisão da Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem, de Campinas, abre caminho para que a companhia renegocie aproximadamente R$ 91,2 milhões em débitos acumulados.

Com o aval judicial, a empresa tem agora 180 dias em que fica protegida de cobranças, bloqueios judiciais e ações de execução promovidas pelos credores.

O magistrado responsável pela decisão, José Guilherme Di Rienzo Marrey, destacou que a análise preliminar do processo confirmou a legitimidade do pedido. Segundo ele, “a perícia prévia afastou a hipótese de utilização fraudulenta do processo, confirmando que a crise, embora grave, não comprometeu a existência física e operacional da companhia”.

Durante essa fase, a Ober deverá apresentar relatórios a cada 30 dias e trabalhar, ao lado da administradora judicial nomeada, na elaboração do edital para habilitação dos credores e na estruturação do plano de pagamento que será submetido à avaliação.

A Ober afirmou enfrentar uma crise econômico-financeira “superável”, mas destacou que a postura cada vez mais agressiva de credores, com ações de execução e ameaças de bloqueio de bens essenciais à produção, tornou inevitável o ajuizamento da recuperação judicial.

Fundada em 1962, a Ober é uma das indústrias mais tradicionais de Nova Odessa. Sua fábrica ocupa um parque fabril de 200 mil m², sendo 130 mil m² de área construída, na Avenida Industrial Oscar Berggren, no Parque Industrial Recanto. A companhia atua na fabricação de não tecidos agulhados a partir de fibras naturais, mistas e sintéticas, suprindo diversos setores – como automotivo, geossintéticos para obras de engenharia civil, calçadista, moveleiro, filtração industrial, limpeza institucional e o segmento de cama, mesa e banho.

A empresa reprocessa um volume de resíduos equivalente a 420 milhões de garrafas PET por ano, que entra na linha de produção como matéria-prima.

Ao longo de mais de seis décadas, a Ober é fornecedora no mercado interno e no Mercosul, com produtos presentes em todo o território nacional. A companhia destaca que emprega aproximadamente 1.400 colaboradores diretos, além de gerar milhares de empregos indiretos e manter uma rede de parceiros e fornecedores que depende do funcionamento regular da fábrica em Nova Odessa.

CRISE APROFUNDADA

A crise, porém, foi se aprofundando nos últimos anos. Segundo a exposição feita à Justiça, a companhia até chegou a registrar um ciclo de crescimento durante a pandemia de Covid-19. Entre 2020, 2021 e 2022, a receita operacional líquida avançou 18,3%, 38,2% e 12,3%, respectivamente, impulsionada sobretudo pela redução das importações vindas da China em razão das restrições sanitárias globais. 

Esse cenário positivo, contudo, foi rapidamente corroído pela inflação de custos, especialmente em insumos importados, e pela disparada dos fretes internacionais, o que comprimiu margens e dificultou o repasse integral dos aumentos ao consumidor final.

Para sustentar o crescimento operacional e garantir liquidez em meio à incerteza, a Ober recorreu a empréstimos bancários e ampliação de linhas de crédito junto a fornecedores. Entre 2020 e 2021, o endividamento aumentou 45,5%, alcançando cerca de R$ 68 milhões, num contexto em que a taxa Selic estava no piso histórico de 2% ao ano, e programas especiais de crédito tornavam o custo financeiro relativamente baixo. A estratégia, apresentada pela empresa como “defensiva e técnica”, tinha como objetivo manter a produção ativa, preservar empregos e evitar demissões em massa em plena crise sanitária.

Segundo a Ober explicou, o cenário macroeconômico, no entanto, mudou de forma brusca a partir do terceiro trimestre de 2021. Com a inflação pressionada, o Banco Central iniciou um ciclo agressivo de alta da Selic, que teve aumento de 7,5 vezes no período analisado.

A empresa citou que o dinheiro ficou mais caro e mais escasso: empresas e consumidores passaram a enfrentar crédito restrito, juros elevados e perda de poder de compra. Ao mesmo tempo, a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia agravou os problemas globais de oferta, pressionou os preços de matérias-primas e contribuiu para uma crise cambial que desvalorizou o real frente ao dólar, encarecendo insumos importados e elevando custos de produção.

Em 2023, a Ober registrou queda de 3,8% na receita operacional líquida em relação a 2022, ao mesmo tempo em que seu endividamento total já havia crescido 96,8% em relação a 2019.

CARGA TRIBUTÁRIA

A Ober disse ainda que a alta carga tributária brasileira funciona como um entrave adicional à sua competitividade.

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