Musicoterapia auxilia crianças a ler, escrever e realizar cálculos na região
Prática terapêutica ganha espaço no apoio ao aprendizado
infantil e ajuda crianças com dificuldade de ler, escrever e calcular; som,
ritmo, harmonia e melodia estimulam concentração e memória, fundamentais para a
alfabetização
A indicação da musicoterapia como recurso terapêutico para o
desenvolvimento cognitivo de crianças com dificuldade para aprender a ler,
escrever e fazer cálculos vem crescendo. É que os elementos que compõem a
música (som, harmonia, ritmo, letra e melodia) estimulam partes do cérebro
responsáveis pela concentração e memória, essenciais no processo de
aprendizagem, segundo a neuropsicóloga Beatriz Filliettaz, diretora do
Instituto Unicamente, clínica especializada em desenvolvimento infantil, com
unidades em três cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas): Campinas,
Hortolândia e Monte Mor.
“Crianças com distúrbios de aprendizagem frequentemente
apresentam dificuldades em concentração, processamento da informação e memória.
A musicoterapia trabalha justamente essas habilidades de maneira lúdica,
através do ritmo, da repetição e da associação de sons e movimentos. Além
disso, ajuda no desenvolvimento da linguagem oral e escrita, pois a música
estimula percepção auditiva, consciência fonológica e organização do
pensamento, competências fundamentais para o processo de alfabetização. Por
isso, é um excelente recurso terapêutico para crianças diagnosticadas com algum
distúrbio de aprendizagem”, explica a neuropsicóloga.
Numa sessão de musicoterapia, instrumentos como tambores,
chocalhos, xilofones, pandeiros, violão, teclado e instrumentos de percussão
variados entram em cena. O objetivo, explica a musicoterapeuta do Instituto
Unicamente, Isabel Contieri de Godoy, é que a criança possa participar
ativamente, produzindo sons e explorando diferentes possibilidades musicais.
“Utilizamos instrumentos de fácil manuseio e que permitem
exploração livre. No caso de crianças com dificuldade de aprendizagem, a
musicoterapia auxilia no desenvolvimento da atenção, memória, linguagem e
organização do pensamento”, afirma a musicoterapeuta.
O jogo de batidas rítmicas sequenciais -, quando o terapeuta
cria uma sequência curta de sons em instrumentos de percussão e a criança
precisa reproduzir -, é citado por Isabel como exemplo de atividade realizada
numa sessão de musicoterapia com crianças que apresentam dificuldade para ler,
escrever ou fazer cálculos. “O objetivo é trabalhar a memória auditiva, atenção
sustentada e raciocínio sequencial, habilidades fundamentais para leitura,
escrita e compreensão de conteúdos escolares”, assinala a especialista.
De acordo com Beatriz, a musicoterapia pode ser indicada em
diferentes contextos clínicos. “Utilizamos especialmente em crianças com atraso
global no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem, transtornos de
linguagem, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e no
Transtorno do Espectro Autista. Esse recurso terapêutico também é bastante
eficaz em casos de dificuldades emocionais, como ansiedade e baixa
autorregulação, pois a música cria um ambiente seguro que facilita a expressão
e o engajamento da criança”, recomenda a neuropsicóloga.
Beatriz destaca que quando uma criança participa de
atividades musicais, áreas relacionadas à memória, atenção, linguagem,
motricidade e emoção são ativadas simultaneamente. “Esse processo fortalece
conexões neurais importantes e favorece a neuroplasticidade, ou seja, a
capacidade do cérebro de aprender e se adaptar. Isso resulta em ganhos
cognitivos e comportamentais que se refletem em diferentes áreas da vida da
criança”, esclarece.
SUPORTE A AUTISTAS
No Instituto Unicamente, a maior parte das crianças que
frequentam as sessões de musicoterapia é diagnosticada com TEA (Transtorno do
Espectro Autista). Segundo a neuropsicóloga, a música se mostra um recurso
muito eficaz para engajar, comunicar e desenvolver crianças atípicas,
complementando outras terapias como fonoaudiologia, psicologia e terapia
ocupacional.
“Para crianças com TEA, a musicoterapia oferece um canal de
comunicação alternativo e não verbal, facilitando a interação social. Através
da música, elas podem se expressar de forma mais espontânea, reduzindo
barreiras de comunicação. Além disso, a música auxilia na regulação das
emoções, diminui comportamentos repetitivos e melhora a capacidade de atenção
compartilhada, aspectos essenciais para o desenvolvimento global e para a
integração em contextos sociais e escolares da criança atípica”, ressalta
Beatriz.
As sessões de musicoterapia podem ser realizadas de modo
individual ou em grupo pequeno, dependendo da necessidade terapêutica e dos
objetivos do plano de intervenção. De acordo com Isabel, cada sessão tem
duração de 50 minutos, tempo adequado para manter a atenção e o engajamento da
criança, sem gerar sobrecarga.

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