Coluna Nutrição Além do Prato
Alimentação e Longevidade: Como cuidar do presente e do
futuro
Viver mais é um desejo de todos, mas a verdadeira questão é:
como viver melhor ao longo dos anos? A ciência mostra que nossas escolhas diárias,
especialmente relacionadas à alimentação e ao estilo de vida, têm impacto
direto não apenas na expectativa de vida, mas na qualidade dessa longevidade.
Envelhecer é inevitável, mas manter saúde, autonomia e disposição é resultado
de hábitos cultivados desde cedo.
O que comemos constrói, dia após dia, a base do nosso corpo. Imagine a infância e juventude como o momento de “armazenar tijolos” para o futuro: é quando formamos ossos fortes, músculos e reservas de nutrientes. Se nessa fase faltam nutrientes, como por exemplo proteínas, cálcio ou ferro, ou se o excesso de ultraprocessados substitui a comida de verdade, o corpo pode sentir os reflexos mais tarde, com ossos frágeis, fraqueza muscular e doenças crônicas.
Na vida adulta, a rotina acelerada costuma levar a escolhas rápidas, mas não é preciso recorrer a soluções complicadas. Um prato com arroz, feijão, legumes, verduras e uma fonte de proteína como peixe, frango, ovos ou mesmo a combinação tradicional de leguminosas com cereais já garante equilíbrio de macronutrientes e micronutrientes.
O consumo moderado de ultraprocessados e
refrigerantes, aliado à hidratação adequada e ao maior espaço para alimentos in
natura (frutas, verduras, grãos integrais, castanhas e proteínas magras)
contribui para a manutenção de uma boa saúde metabólica. Além disso, vitaminas
e minerais, como as do complexo B, magnésio e potássio, desempenham papéis
fundamentais na energia, no equilíbrio da pressão arterial e na proteção
cardiovascular.
Com o avanço da idade, o corpo passa por mudanças fisiológicas naturais. A partir dos 60 anos, é comum observar redução da massa muscular, perda de apetite e menor eficiência na absorção de nutrientes como vitamina B12 e vitamina D.
Nessa fase, garantir ingestão adequada de proteínas,
presentes em ovos, leite, queijos, carnes magras, grão-de-bico e lentilha, é
essencial para preservar força e independência. A prática regular de exercícios
de resistência, como musculação, pilates ou atividades com o próprio peso
corporal, estimula o músculo e reduz o risco de quedas, fraturas e limitações
funcionais.
Para as mulheres, a menopausa é uma transição que merece atenção especial. A queda dos hormônios sexuais acelera a perda de massa óssea, aumenta a propensão ao acúmulo de gordura abdominal e influencia sono e humor.
Estratégias nutricionais que incluem cálcio (leite, iogurte, queijos e vegetais verde-escuros), vitamina D (exposição solar segura, ovos, peixes gordurosos, suplementação quando necessário), proteínas de boa qualidade e fibras alimentares ajudam a enfrentar essa fase com mais equilíbrio.
Estudos também indicam que a manutenção de um peso corporal adequado e a prática de atividade física reduzem significativamente o risco de doenças cardiovasculares nesse período.
Mas a longevidade não depende apenas da alimentação. Sono reparador, prática regular de exercícios aeróbicos e de força, hidratação consistente e vínculos sociais ativos formam um conjunto de fatores que reduzem inflamações, protegem o cérebro, fortalecem o coração e estão associados a maior expectativa de vida saudável.
Pesquisas epidemiológicas, como os estudos
das “Blue Zones” (regiões do mundo onde as pessoas vivem mais e com mais
qualidade) mostram que esses elementos em conjunto são determinantes para o
envelhecimento saudável.
Envelhecer bem não está ligado a modismos ou dietas restritivas, mas à consistência em escolhas simples e repetidas todos os dias: montar pratos coloridos, moderar ultraprocessados, priorizar alimentos naturais, se hidratar,
se exercitar e respeitar o sono. Cada refeição
representa uma oportunidade de cuidar do presente e de investir no futuro. E
quanto antes essas escolhas forem cultivadas, maior a chance de não apenas
viver mais, mas viver melhor.
Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva,
formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP
(Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de
vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de uma
nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia
alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na
clínica Centerclin, em Sumaré.

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