Coluna Nutrição Além do Prato
Coluna Nutrição Além do Prato – Por Marina Rocha Luciano
Os chips da beleza: quando o milagre hormonal encontra o
risco silencioso
Nos últimos anos, os chamados “chips da beleza”, implantes
hormonais vendidos como solução rápida para perda de gordura, aumento de massa
magra, melhora da libido e até do humor, ganharam espaço no discurso do
bem-estar. Tornaram-se sinônimo de autocuidado moderno, sustentados por uma
aura de tecnologia e ciência. Mas, por trás dessa promessa de vitalidade e
perfeição, há uma realidade que merece ser analisada com mais cuidado.
Hoje é comum ver pessoas implantando hormônios sem exames
adequados, sem acompanhamento e, muitas vezes, sem sequer saber o que estão
recebendo. O discurso sedutor do “natural”, “seguro” e “equilibrador hormonal”
mascara o fato de que muitos desses chips contêm testosterona, gestrinona,
entre outros esteroides anabolizantes, substâncias com potenciais efeitos
adversos importantes. Alterações hepáticas, distúrbios cardiovasculares, acne
severa, queda de cabelo e mudanças de humor são apenas alguns dos riscos
associados ao uso indiscriminado.
Vivemos em uma época em que o imediatismo se confunde com
autocuidado. A promessa de um corpo mais bonito, mais disposição e energia
constante é sedutora, especialmente em uma sociedade que valoriza performance e
aparência. O que se vende como bem-estar, muitas vezes, oculta riscos reais que
podem ter consequências graves para a saúde.
Autoridades regulatórias e entidades médicas, como a Anvisa,
o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia (SBEM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO), reforçam que não há respaldo científico para o uso de
implantes hormonais com fins estéticos e alertam para os riscos
cardiovasculares, metabólicos e hepáticos associados a essa prática.
É importante ressaltar que existem situações médicas em que
implantes hormonais podem ser indicados e benéficos. O problema é quando a
mesma ferramenta terapêutica passa a ser usada com fins estéticos, sem
critérios clínicos claros e sem respeito aos riscos individuais.
Nada disso diminui a importância de hábitos fundamentais
como alimentação adequada, prática regular de atividade física e manutenção de
um estilo de vida saudável. Essas estratégias continuam sendo a base mais
segura e eficaz para bem-estar, saúde e qualidade de vida.
Como profissionais da saúde, é fundamental questionar essa
banalização. Informar, orientar e contextualizar o verdadeiro sentido do
cuidado é essencial. Autocuidado não é aceitar qualquer intervenção que prometa
resultados rápidos, mas buscar equilíbrio, consciência e saúde a longo prazo.
Mais do que discutir o uso de hormônios, é preciso refletir
sobre o que está por trás do desejo de resultados imediatos e atalhos rápidos.
A popularização dos chips da beleza evidencia a importância de avaliar cada
prática com base em ciência, regulamentação e segurança, lembrando que
promessas de eficácia rápida nem sempre correspondem à realidade clínica.
Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva,
formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP
(Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de
vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de
uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia
alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na
clínica Centerclin, em Sumaré.

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