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Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva e atua na promoção da saúde e qualidade de vida

Coluna Nutrição Além do Prato

Dormir bem para fazer escolhas alimentares melhores

Em uma rotina cada vez mais acelerada, dormir pouco virou quase um símbolo de produtividade. Mas a verdade é que o sono é um dos pilares mais importantes para o funcionamento do corpo e da mente. Dormir bem não é apenas descansar, é regular hormônios, equilibrar o apetite, recuperar músculos e até melhorar a memória.

Durante o sono, o corpo passa por diferentes fases, cada uma com funções específicas. No sono profundo, chamado de fase N3, ocorre a maior liberação do hormônio do crescimento, essencial para reparação muscular e regeneração celular. 

A produção de testosterona também acontece nesse período, enquanto o cortisol, hormônio do estresse, naturalmente diminui. Já o sono REM é fundamental para consolidar memória, aprendizado e processamento emocional. Quando dormimos pouco, todas essas funções são prejudicadas, deixando o corpo em alerta, cansado e com mais dificuldade de lidar com decisões e controle emocional.

O sono insuficiente também afeta diretamente o equilíbrio entre leptina e grelina, hormônios que regulam o apetite. A leptina sinaliza saciedade e a grelina estimula a fome. Com menos horas de sono, a leptina cai e a grelina aumenta, fazendo com que o corpo busque energia rápida, muitas vezes na forma de alimentos ricos em açúcar e gordura. Não é falta de força de vontade: é uma resposta fisiológica do organismo tentando se manter ativo diante do cansaço.

Além disso, a privação de sono prejudica o metabolismo da glicose e a sensibilidade à insulina, fatores que, a longo prazo, aumentam o risco de ganho de peso e resistência insulínica. O impacto vai além do corpo: o humor, a concentração e a tomada de decisões também ficam comprometidos, tornando mais difícil escolher alimentos saudáveis ou manter hábitos consistentes.

Pequenos ajustes na rotina podem transformar a qualidade do sono. Estabelecer horários regulares para dormir e acordar, evitar telas antes de deitar, manter o quarto escuro e silencioso, reduzir cafeína no fim do dia e criar um ritual de relaxamento são medidas simples, mas eficazes. Quem pratica esses hábitos percebe menos fome fora de hora, mais energia durante o dia e maior facilidade para manter escolhas alimentares equilibradas.

Dormir bem é um ato de autocuidado inteligente. Não é preguiça: é estratégia para que o corpo e a mente funcionem melhor. Ao respeitar o sono, ganhamos disposição, clareza, controle sobre o apetite e saúde de forma integrada. Da próxima vez que se sentir tentado a sacrificar algumas horas de descanso, lembre-se: dormir bem também é se alimentar melhor, recuperar o corpo e cuidar da sua saúde de dentro para fora.

Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva, formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP (Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na clínica Centerclin, em Sumaré.



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