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Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva e atua na promoção da saúde e qualidade de vida

Coluna Nutrição Além do Prato

Entre o hábito e a saúde: qual é o espaço do refrigerante zero?

O refrigerante zero costuma ser visto como uma escolha inteligente: afinal, não tem calorias, não tem açúcar e, portanto, não engorda. Essa percepção é muito comum no dia a dia e até faz sentido em uma primeira análise. No entanto, é importante refletirmos sobre o que de fato esse tipo de produto oferece.

A ausência de calorias não transforma automaticamente um alimento ou uma bebida em algo saudável. O refrigerante zero é um produto ultraprocessado, que passa por muitas etapas industriais e contém aditivos para dar sabor, aroma e conservação. Isso não significa que seja proibido ou que vá causar mal por si só, mas sim que, do ponto de vista nutricional, ele não acrescenta nada de relevante à nossa alimentação. Não tem vitaminas, minerais ou antioxidantes. Ou seja, não contribui para o valor nutricional da dieta.

Por outro lado, o refrigerante zero pode ter um papel em determinadas rotinas. Para algumas pessoas, ele traz prazer, ajuda a manter constância em planos alimentares ajustados e pode ser um recurso em momentos específicos, sem grandes problemas. Nesse contexto, pode ser bem-vindo. O ponto de atenção aparece quando, justamente por não ter calorias, ele passa a ser visto como um passe livre para o consumo ilimitado, chegando a substituir a água ao longo do dia. É aí que o equilíbrio se perde.

Outro aspecto importante é que, muitas vezes, pelo fato de não ter açúcar, o refrigerante zero acaba sendo até incentivado para pessoas que nem tinham o hábito de consumir refrigerante. Isso é um erro. Promover o consumo de uma bebida ultraprocessada, sem valor nutricional, para quem não sente falta dela, não faz sentido e pode acabar criando um hábito que não existia antes.

Há ainda um debate frequente sobre a comparação entre o refrigerante zero e o suco de laranja natural. Escutamos muito essa dúvida: “o que é melhor, um copo de refrigerante zero ou um suco de laranja?”. Na prática, essa comparação não faz sentido. O suco de laranja é feito a partir da fruta, carrega vitaminas, minerais, antioxidantes e fibras (quando consumido com o bagaço), mas também concentra mais calorias porque geralmente utilizamos várias laranjas para preparar um único copo. Já o refrigerante zero, embora não tenha calorias, também não tem nutrientes, é apenas sabor e refrescância. São bebidas diferentes, que cumprem papéis distintos, e cada uma precisa ser entendida dentro do seu próprio contexto.

A grande reflexão é: não é porque um produto é “zero” que ele automaticamente será saudável. Usá-lo pontualmente, como parte de uma rotina alimentar equilibrada, não traz grandes riscos. Mas, quando consumido diariamente em grandes quantidades, pode ocupar o espaço de escolhas mais nutritivas, como água ou sucos naturais, e empobrecer a alimentação.

No fim, o segredo está no bom senso. Saber ponderar, entender o papel de cada alimento ou bebida na sua rotina e cultivar uma alimentação variada é o que realmente faz diferença. O refrigerante zero não precisa ser visto como vilão, mas também não deve ser tratado como sinal verde para consumo diário e indiscriminado. Saúde não se resume à ausência de calorias, e sim à soma de escolhas consistentes que, juntas, constroem um estilo de vida equilibrado.

Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva, formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP (Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na clínica Centerclin, em Sumaré.

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