Coluna Nutrição Além do Prato
Alimentação e saúde mental: entendendo a relação entre o que
comemos e nosso bem-estar emocional
Nos últimos anos, a saúde mental tem se tornado uma prioridade global, acompanhando o aumento significativo dos casos de ansiedade, estresse e sintomas depressivos em diferentes faixas etárias. O que comemos e como nos cuidamos diariamente desempenha um papel importante nesse cenário, estabelecendo uma relação bidirecional com nosso estado emocional.
Estudos
recentes mostram que padrões alimentares equilibrados, ricos em frutas,
vegetais, grãos integrais, proteínas magras e fontes de gorduras saudáveis,
como peixes e oleaginosas, estão associados a uma menor incidência de depressão
e ansiedade. Por outro lado, dietas com excesso de alimentos ultraprocessados e
açúcares adicionados podem contribuir para o aumento desses sintomas, afetando
o funcionamento do cérebro e o equilíbrio neuroquímico.
O impacto da alimentação na saúde mental vai além de nutrientes isolados. Um padrão alimentar consistente, aliado a refeições regulares, ajuda a manter níveis estáveis de energia, evitando quedas de glicose que podem gerar irritabilidade, fadiga e alterações de humor.
Além disso, a relação entre
alimentação e bem-estar é circular: quando nos alimentamos de forma
equilibrada, nosso cérebro recebe os sinais adequados para regular humor,
concentração e respostas ao estresse, e, ao nos sentirmos melhor, tendemos a
cuidar mais de nós mesmos, promovendo escolhas conscientes e hábitos saudáveis.
No entanto, a alimentação não atua isoladamente. Estilo de vida, sono, hidratação e atividade física desempenham papéis igualmente importantes na manutenção da saúde mental. A prática regular de exercícios, mesmo que moderada, tem efeitos comprovados sobre a redução do estresse, da ansiedade e da depressão, estimulando a liberação de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que promovem sensação de bem-estar.
O descanso
adequado é outro pilar essencial: noites bem dormidas favorecem a regeneração
cerebral, melhoram a memória, a concentração e a regulação emocional. A
hidratação, muitas vezes negligenciada, também influencia o humor e a
disposição; a ingestão suficiente de água é fundamental para o funcionamento
fisiológico e para a comunicação eficiente entre os sistemas do corpo e o
cérebro.
Suplementos nutricionais podem ser úteis em contextos
específicos, mas não substituem hábitos de vida saudáveis. Em geral, vitaminas
do complexo B, vitamina D, ômega-3 e alguns minerais, como magnésio e zinco,
têm sido estudados por seus efeitos na saúde mental, especialmente quando
deficiências nutricionais estão presentes. Entretanto, sua indicação deve ser
individualizada, baseada em avaliação profissional, exames laboratoriais e necessidades
específicas de cada pessoa.
É importante ressaltar que, em casos de condições crônicas, como transtornos de ansiedade ou depressão diagnosticados, melhorar a alimentação e o estilo de vida é apenas um componente do cuidado.
O
acompanhamento com profissionais especializados, como psicólogos, psiquiatras e
outros especialistas em saúde mental, é fundamental. Terapia, suporte emocional
e, quando indicado, tratamento medicamentoso são partes essenciais de uma
abordagem integrada e segura para lidar com diagnósticos complexos.
Mais do que uma lista de alimentos ou nutrientes, cuidar da saúde mental envolve integrar diferentes aspectos do cotidiano. Manter um padrão alimentar equilibrado, praticar atividade física regularmente, garantir sono de qualidade, hidratar-se adequadamente e, quando necessário, complementar com nutrientes específicos, cria uma base sólida para o bem-estar emocional.
Ao mesmo tempo, reconhecer a importância de profissionais especializados reforça que a saúde mental é multifatorial, e que decisões conscientes no dia a dia podem apoiar, mas não substituir, tratamentos adequados e individuais.
Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva,
formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP
(Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de
vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de
uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia
alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na
clínica Centerclin, em Sumaré.

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