Coluna Nutrição além do prato
Metanol em bebidas: os riscos reais
Recentemente, uma notícia ganhou grande destaque em todo o
país: casos de pessoas intoxicadas e até mortes após o consumo de bebidas
alcoólicas contaminadas por metanol. Esse assunto vem gerando grande
repercussão nas redes sociais e trouxe uma preocupação real. Como saber se a
bebida tem metanol? Onde está o risco real?
Antes de mais nada, é importante entender a diferença entre etanol e metanol. O etanol é o álcool presente nas bebidas que consumimos socialmente. Apesar de também ser tóxico em excesso, o organismo humano consegue metabolizá-lo de forma relativamente eficiente. Já o metanol, também um tipo de álcool, é convertido pelo corpo em substâncias altamente tóxicas, como formaldeído e ácido fórmico.
Esses compostos prejudicam a “fábrica de
energia” das células, interferindo no funcionamento das mitocôndrias,
responsáveis por produzir energia para o corpo. Tecidos que demandam mais
energia, como o nervo óptico, o cérebro e o coração, são os primeiros a sofrer
os efeitos. Por isso, a intoxicação afeta especialmente a visão e o sistema nervoso,
podendo causar visão turva, sensação de névoa, confusão mental, sonolência ou,
em casos mais graves, perda permanente da visão.
O grande problema é que não é possível diferenciar etanol de
metanol apenas olhando, cheirando ou provando a bebida. Ambos são incolores,
têm odor e sabor muito semelhantes. Ou seja, não há como identificar no copo se
a bebida está adulterada. Os sintomas iniciais também podem confundir,
parecendo uma simples “bebedeira”, com dor de cabeça, tontura, náusea, vômito e
mal-estar. Horas depois, surgem os sinais mais graves, que indicam intoxicação
séria.
Embora o risco maior esteja em bebidas destiladas
clandestinas, qualquer bebida pode ser alvo de contaminação, incluindo vinho e
cerveja, ainda que até agora não haja registros confirmados desses casos. Outro
ponto essencial é que ter nota fiscal, rótulo bonito e lacre intacto não
garante segurança imediata. Até que a fiscalização identifique exatamente onde
a adulteração ocorreu, produtos potencialmente perigosos podem circular no
mercado sem que o consumidor perceba.
Diante desse cenário, a primeira e mais importante medida é evitar o consumo de bebidas alcoólicas até que se identifique o foco da contaminação. Caso a pessoa opte por consumir, é fundamental ter prevenção pelo consumo consciente e atenção imediata a qualquer sinal de intoxicação, ciente de que ainda existe risco.
Quanto mais cedo for o atendimento médico, maiores
são as chances de evitar sequelas graves, como a perda da visão, e até de
salvar a vida. A atenção aos sintomas é essencial: visão borrada, náusea
intensa ou sonolência exagerada após ingerir bebida alcoólica devem ser sinal
de alerta imediato para procurar atendimento.
O Ministério da Saúde já reforçou, em nota técnica recente, a importância dessa vigilância e da informação à população. Mas, no dia a dia, a recomendação mais eficaz continua sendo priorizar a prevenção pelo não consumo e, caso opte por beber, agir com atenção e consciência diante de qualquer sinal suspeito.
Esse é um tema que vai além da nutrição: envolve saúde
pública, segurança alimentar e responsabilidade social. Quanto mais informada
estiver a comunidade, mais protegida estará de riscos tão sérios quanto esse.
Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva,
formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP
(Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de
vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de
uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia
alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na
clínica Centerclin, em Sumaré.

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