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Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva e atua na promoção da saúde e qualidade de vida

Coluna Nutrição além do prato

Metanol em bebidas: os riscos reais

Recentemente, uma notícia ganhou grande destaque em todo o país: casos de pessoas intoxicadas e até mortes após o consumo de bebidas alcoólicas contaminadas por metanol. Esse assunto vem gerando grande repercussão nas redes sociais e trouxe uma preocupação real. Como saber se a bebida tem metanol? Onde está o risco real?

Antes de mais nada, é importante entender a diferença entre etanol e metanol. O etanol é o álcool presente nas bebidas que consumimos socialmente. Apesar de também ser tóxico em excesso, o organismo humano consegue metabolizá-lo de forma relativamente eficiente. Já o metanol, também um tipo de álcool, é convertido pelo corpo em substâncias altamente tóxicas, como formaldeído e ácido fórmico. 

Esses compostos prejudicam a “fábrica de energia” das células, interferindo no funcionamento das mitocôndrias, responsáveis por produzir energia para o corpo. Tecidos que demandam mais energia, como o nervo óptico, o cérebro e o coração, são os primeiros a sofrer os efeitos. Por isso, a intoxicação afeta especialmente a visão e o sistema nervoso, podendo causar visão turva, sensação de névoa, confusão mental, sonolência ou, em casos mais graves, perda permanente da visão.

O grande problema é que não é possível diferenciar etanol de metanol apenas olhando, cheirando ou provando a bebida. Ambos são incolores, têm odor e sabor muito semelhantes. Ou seja, não há como identificar no copo se a bebida está adulterada. Os sintomas iniciais também podem confundir, parecendo uma simples “bebedeira”, com dor de cabeça, tontura, náusea, vômito e mal-estar. Horas depois, surgem os sinais mais graves, que indicam intoxicação séria.

Embora o risco maior esteja em bebidas destiladas clandestinas, qualquer bebida pode ser alvo de contaminação, incluindo vinho e cerveja, ainda que até agora não haja registros confirmados desses casos. Outro ponto essencial é que ter nota fiscal, rótulo bonito e lacre intacto não garante segurança imediata. Até que a fiscalização identifique exatamente onde a adulteração ocorreu, produtos potencialmente perigosos podem circular no mercado sem que o consumidor perceba.

Diante desse cenário, a primeira e mais importante medida é evitar o consumo de bebidas alcoólicas até que se identifique o foco da contaminação. Caso a pessoa opte por consumir, é fundamental ter prevenção pelo consumo consciente e atenção imediata a qualquer sinal de intoxicação, ciente de que ainda existe risco. 

Quanto mais cedo for o atendimento médico, maiores são as chances de evitar sequelas graves, como a perda da visão, e até de salvar a vida. A atenção aos sintomas é essencial: visão borrada, náusea intensa ou sonolência exagerada após ingerir bebida alcoólica devem ser sinal de alerta imediato para procurar atendimento.

O Ministério da Saúde já reforçou, em nota técnica recente, a importância dessa vigilância e da informação à população. Mas, no dia a dia, a recomendação mais eficaz continua sendo priorizar a prevenção pelo não consumo e, caso opte por beber, agir com atenção e consciência diante de qualquer sinal suspeito. 

Esse é um tema que vai além da nutrição: envolve saúde pública, segurança alimentar e responsabilidade social. Quanto mais informada estiver a comunidade, mais protegida estará de riscos tão sérios quanto esse.

Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica esportiva, formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação pela USP (Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e qualidade de vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva. Por meio de uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover autonomia alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis. Atende na clínica Centerclin, em Sumaré.

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