Coluna Nutrição Além do Prato
O processo real de emagrecimento: o que acontece com a
gordura quando ela é “queimada”?
O emagrecimento é um dos temas mais falados e,
paradoxalmente, um dos mais mal compreendidos da área da saúde. Embora pareça
algo simples, “gastar mais do que se consome”, o processo biológico por trás da
perda de gordura corporal é complexo e cheio de detalhes que merecem ser
compreendidos. Afinal, o que realmente acontece com a gordura quando
emagrecemos? Ela é “quebrada”? “Queimada”? E, principalmente, para onde ela
vai?
Para começar, é importante entender que quebrar gordura e
queimar gordura não são a mesma coisa. A primeira expressão se refere ao
processo chamado lipólise, enquanto a segunda está relacionada à oxidação de
ácidos graxos. Ambas acontecem em sequência, mas representam etapas diferentes
no caminho da utilização da gordura corporal como fonte de energia.
Durante a lipólise, os triglicerídeos armazenados nos
adipócitos (as células de gordura) são “quebrados” em partes menores: glicerol
e ácidos graxos livres. Esse processo é estimulado principalmente por hormônios
como a adrenalina, noradrenalina e o glucagon, especialmente em situações de
déficit energético, como jejum ou exercício físico. É importante destacar que,
até esse ponto, a gordura apenas foi mobilizada, ou seja, retirada do estoque.
Ainda não foi realmente queimada.
A etapa seguinte é a oxidação dos ácidos graxos, que ocorre
principalmente nas mitocôndrias das células musculares. É nesse momento que
esses ácidos graxos são “queimados”, ou seja, sofrem reações químicas que
liberam energia (na forma de ATP) para sustentar as funções do corpo. O
subproduto dessa reação é o que a maioria das pessoas desconhece: a gordura não
se transforma em suor nem em fezes, mas sim em dióxido de carbono (CO₂) e água
(H₂O).
Estudos clássicos e revisões recentes mostram que cerca de
84% da gordura perdida é eliminada na forma de CO₂ pela respiração, e os outros
16% saem como água, através da urina, suor e vapor expirado. Portanto, quando
dizemos que “queimamos gordura”, estamos literalmente falando de um processo
metabólico que culmina em liberar energia e exalar o resultado pela respiração.
Esse conhecimento ajuda a esclarecer equívocos comuns em
torno de métodos e procedimentos que prometem “quebrar gordura”. Ainda que
alguns desses métodos possam de fato induzir a ruptura das células adiposas ou
a liberação de gordura local, isso não significa que a gordura tenha sido
“queimada” ou eliminada do corpo. Para que a perda seja real, é necessário que
o organismo utilize esses ácidos graxos como combustível, o que só acontece
quando há déficit energético, ou seja, quando o corpo precisa recorrer às suas
reservas para gerar energia.
Em outras palavras, “quebrar” gordura é apenas abrir o
cofre, enquanto “queimar” é usar o dinheiro que estava dentro. O processo só se
completa quando o corpo efetivamente oxida essa gordura para produzir energia.
Portanto, o verdadeiro emagrecimento não vem de procedimentos pontuais, mas da
soma de fatores que favorecem a utilização das reservas energéticas:
alimentação ajustada, prática regular de exercício físico, sono adequado e um
ambiente hormonal equilibrado.
Compreender a diferença entre quebrar e queimar gordura é fundamental para não cair em promessas simplistas e para adotar estratégias que realmente favoreçam mudanças corporais sustentáveis. Em um mundo em que a pressa pelo resultado rápido é sedutora, a ciência segue lembrando que o emagrecimento verdadeiro acontece de dentro para fora e respira junto com a gente.
Marina Rocha Luciano é nutricionista clínica
esportiva, formada pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e com pós-graduação
pela USP (Universidade de São Paulo). Atua com foco na promoção da saúde e
qualidade de vida, melhora da composição corporal e da performance esportiva.
Por meio de uma nutrição com propósito, respaldada na ciência, busca promover
autonomia alimentar com estratégias individualizadas, eficazes e sustentáveis.
Atende na clínica Centerclin, em Sumaré.
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