Saúde
Samu completa 15 anos ajudando quem mais precisa de socorro

Trabalho incansável pela vida: Samu faz 15 anos na linha de frente da saúde

Coordenadores das unidades de Sumaré e Hortolândia lembram histórias marcantes e emocionantes que fazem dos socorristas verdadeiros heróis

Paulo Medina e Cézar Oliveira | Tribuna Liberal

Órgão essencial no socorro de vítimas, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) completa no próximo dia 23 de janeiro, 15 anos de atuação em Sumaré e Hortolândia. As equipes atuam diariamente com o desafio de agir com velocidade, precisão e conhecimento técnico por um objetivo maior: salvar vidas. Médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e condutores socorristas atuam 24h por dia. Sempre na linha de frente ao serem acionados pelo 192. Não tem dia da semana. Não tem hora. Sobra disposição.

O Samu Regional Sumaré-Hortolândia foi inaugurado em 2008. E de lá pra cá não faltam histórias impactantes. O coordenador do Samu de Sumaré, Rafael Silvério de Oliveira, relatou algumas ocorrências que vivenciou durante seu plantão. 

“Nós trabalhamos aqui no sol, chuva, já fizemos muitos partos. Nós somos um Samu bem atuante no município de Sumaré. Fazemos em torno de 1.000 atendimentos por mês. Trabalhamos com uma UTI móvel e também de suporte básico, que faz os atendimentos de rua. Os profissionais são todos completamente treinados e capacitados. A cada dia uma história diferente, a cada ocorrência uma história diferente. Às vezes a gente tá na casa de uma pessoa sem nenhuma condição financeira e no próximo atendimento a gente está na casa de um milionário. Atendemos o idoso de 100 anos no leito de morte no último suspiro da vida dele, e aí o próximo atendimento daqui uma hora a gente tem a felicidade de fazer um parto e mais uma criança vindo a vida dentro da nossa ambulância”, comentou Rafael.

Para Rafael, a pandemia foi um dos momentos mais marcantes, período em que passou 17 dias na UTI em decorrência da Covid-19. “Muitos colaboradores nossos adoeceram, a gente ficou muito apreensivo, porque a gente trabalhava realmente com o foco. Eu mesmo fui um que fiquei internado na UTI, fiquei 17 dias internado, fiquei em estado muito grave com covid, mas me recuperei. Tivemos outros colaboradores daqui também, aproximadamente 80% da minha equipe pegou o vírus e ficaram afastados. A gente ainda assim continua na labuta trabalhando para atender a população”, comentou.

O coordenador frisou que os profissionais do Samu não medem esforços. “Ontem (quinta-feira) eu me deparei com uma uma situação em que todos da minha equipe do plantão diurno chegaram 7 horas da noite para passar o plantão e todos chegaram encharcados, molhados, não tinha um da equipe que não tinha tomado chuva, então isso é uma coisa que eu olho para eles e falo: ‘vocês são profissionais mesmo, cara’! Isso aí é literalmente se arriscar nessa chuva, nesses rios, para salvar a vida. É nesse momento que a gente atua, infelizmente trabalhamos na maioria das vezes na pior desgraça da vida das pessoas. A gente tá lá para dar um apoio para tentar fazer o nosso melhor, às vezes conseguimos, tentamos, às vezes não sai como planejamos. O objetivo é sempre salvar a vida e dar o nosso melhor sempre em prol da vida. Eu fiquei muito emocionado ontem na quinta-feira (19) em que a equipe se empenhou em ir para salvar vidas não medindo esforços”, lembrou.

O Samu é um programa do SUS (Sistema Único de Saúde), regulamentado pelas portarias 2048 de 2002 que tratam da rede de atendimento das urgências e emergências do país e também pela portaria 1010, de 21 de maio de 2012, que redefine as diretrizes para implantação do serviço de atendimento móvel de urgência e sua central de regulação. O serviço consiste em receber solicitações através da ligação gratuita no número 192 onde o médico regulador define o grau de prioridade e o tipo de ambulância a ser encaminhada para atender a ocorrência.

São dois tipos de ambulâncias: a de suporte básico, composta por um condutor socorrista e um técnico de enfermagem, e a viatura de suporte avançado, conhecida também como UTI Móvel, composta pelo condutor socorrista, enfermeiro e médico. Existem também as motolâncias, compostas por enfermeiro e técnico de enfermagem. O atendimento pré-hospitalar móvel é fundamental para levar a equipe de saúde especializada em urgências para o local da ocorrência onde há grande potencial de risco à vida.

A Central de Regulação de Urgências fica localizada no município de Hortolândia, onde as ligações são recebidas, triadas e encaminhadas via rádio para as equipes de atendimento. Tanto Hortolândia quanto Sumaré trabalham cada município com uma viatura de suporte avançado e três viaturas de suporte básico, além das motolâncias que atuam no município de Hortolândia. O serviço recebe, em média, 150 ligações por dia e uma média de 50 mil chamados por ano e já atendeu, desde a fundação, mais de 700 mil ligações.

São realizados por ano cerca de 3 mil atendimentos de suporte avançado e 16 mil atendimentos de suporte básico. Nestes 15 anos de existência, foram realizados cerca de 46 mil atendimentos de suporte avançado e 229 mil atendimentos de suporte básico.

SAMU HORTOLÂNDIA

O coordenador do Samu de Hortolândia, Renato Lopes Machado, relembrou algumas ocorrências. “A gente tem na história muitas ocorrências que são marcantes para todas as equipes, conversando com cada profissional, cada um vai relatar histórias que os motivam, que ficam na memória. Há algumas tristes, mas também temos histórias bonitas, de superação, que eles conseguiram socorrer uma vítima e posteriormente, eles tiveram contato, depois encontraram pessoalmente com a vítima e a gratidão que ela teve com o profissional os deixaram muito felizes”.

Renato conta, emocionado, de uma ocorrência em que foi socorrer dois jovens que foram atropelados pelo trem no mesmo dia, em curto intervalo de tempo e em locais diferentes. “Uma ocorrência que me marcou bastante, foi domingo de manhã. Entrou uma chamada para nós de uma amputação, atropelamento por trem próximo à ponte do Jardim Minda. Quando chegamos no local, eu, o médico e o condutor, na ambulância de suporte avançado, encontramos o Wesley, que na época era pré-adolescente. Ele já estava com o pé parcialmente amputado. A irmã do jovem estava no local muito preocupada e assustada. A equipe começou o atendimento, fizemos a estabilização da fratura, imobilizamos o pé e colocamos o soro para fazer reposição volêmica. Ele estava com a pressão baixa e muito assustado. Ele chorava e tentamos acalmar ele. A gente optou por acionar o transporte aeromédico, helicóptero Águia da Polícia Militar. Então ele foi transportado para o Hospital das Clínicas da Unicamp”, comentou. 

“No momento em que estávamos fazendo a limpeza e arrumando a ambulância no local após o atendimento, entrou uma outra chamada, em outro bairro totalmente oposto. Quando chegamos, tivemos que caminhar 800 metros pela linha férrea até chegar no local, onde encontramos o Fernando. Segunda vítima que foi atropelada, que por coincidência, pelo mesmo trem. O jovem contou que estava pegando ‘rabeira’ e acabou caindo. O Fernando, a segunda vítima, foi atropelado primeiro. Ele ficou mais tempo no local, que é uma outra complicação no quadro clínico, além do que ele estava dentro da linha do trem, em cima dos trilhos. Fizemos a remoção imediata de retirá-lo da linha porque podia vir outro trem. Pegamos e estabilizamos a vítima e daí a gente resolveu por conta da gravidade, acionar o socorro aeromédico novamente, porém, o Águia ficou achando que a gente estava falando da mesma ocorrência, ou seja, do primeiro atendimento ao Wesley, e não queria mandar o helicóptero. Então tivemos que explicar que se tratava de outra vítima. Foi enviado o Águia e encaminhou ele para o Hospital Estadual de Sumaré”, contou Renato.

O coordenador recorda do encontro com as duas vítimas do atropelamento. “Eu encontrei com Wesley, fiz parte do tratamento pós-operatório e passamos a ter um laço de amizade, por eu socorrer ele no local e cuidar dele no hospital. E ele realmente teve que amputar a perna”, lamentou Renato. A mãe de Wesley convidou o coordenador Renato para o aniversário do filho um ano após o acidente. “A mãe dele me ligou para o aniversário. Houve um encontro entre os dois jovens vítimas do atropelamento daquele dia, entre Wesley e o Fernando, que passaram a ser amigos por conta da história. Ambos estão trabalhando normalmente com suas próteses. Essas duas ocorrências me marcaram bastante”, disse.

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