Economia
Eli Borochovicius diz que planejamento deve começar pelo levantamento das contas a pagar, mês a mês

Especialistas dão dicas para pagar contas de início de ano sem sufoco

Planejamento antecipado é a principal recomendação para arcar com gastos extras como IPTU, IPVA e compra de material escolar sem estourar orçamento e evitar dívidas

Beth Soares | Tribuna Liberal

IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores). Essas siglas, com quatro letrinhas, são bem conhecidas das famílias quando o assunto é despesa de início de ano. Junto com esses impostos costumam entrar no orçamento gastos extras com matrícula e material escolar. E o que fazer para enfrentar os primeiros meses do ano sem complicações financeiras, diante de tantas contas a pagar ao mesmo tempo? Especialistas entrevistados pelo Tribuna Liberal dão a resposta: planejamento.

“É preciso prevenir realizando um bom planejamento financeiro. Para quem não se preveniu, terá que remediar. Vale lembrar que considerando essa hipótese, dá tempo de começar a planejar 2025 e não é cedo para isso. É bom até para lembrar de todas as contas que chegam no início do ano”, afirma o economista Eli Borochovicius, professor da Escola de Economia e Negócios da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica).

O especialista explica que o orçamento das famílias costuma ficar apertado no início do ano porque é preciso conciliar os impostos sobre propriedade e os gastos com material escolar, por exemplo, com as despesas de rotina e, muitas vezes, com os pagamentos das parcelas de dívidas assumidas nas compras de Black Friday, Natal e Ano Novo.

“O erro mais comum cometido pelas pessoas é confiar na cabeça e não ter as informações anotadas em papel ou planilha eletrônica. Não é raro esquecer contas, motivo pelo qual costumo sugerir que o planejamento financeiro comece pelo levantamento das contas a pagar, mês a mês”, ensina Borochovicius.

Para exemplificar, o economista utiliza o seu próprio planejamento financeiro. “Para as contas do início desse ano, por exemplo, eu já sabia, em agosto de 2023, que as receitas não seriam suficientes para cobrir as despesas, então, precisei reservar todo o meu 13º salário para honrar os meus compromissos. As comemorações de final de ano foram bem tímidas e sem presentes. Eu sabia que a contenção de gastos era necessária e me preparei com antecedência”, conta.

A organização prévia, colocando na ponta do lápis as despesas comuns de início de ano, deve incluir, também, toda receita líquida prevista para o período, incluindo as sazonais, acrescenta o gestor e consultor financeiro Rogério Araújo. “É necessário ter uma visão de que se tem essas responsabilidades financeiras no início de ano e fazer um planejamento, inclusive com o 13º salário, férias, férias coletivas”, observa Araújo.

Rogério Araújo: gestor e consultor financeiro orienta para a negociação de dívidas com planejamento

E quem não fez essa programação no ano anterior? Araújo recomenda que comece a fazer, já, e aponta um caminho simples. “Anotar as despesas e ter um caderno de controle, uma planilha para controlar as contas e ter uma visão do macro do que se ganha, do que gasta, como está o endividamento ou a poupança”, sugere.

“E, também, claro, trabalhar com um projeto para o próximo ano: guardar dinheiro, mesmo que seja pouco, mês a mês, para passar tranquilamente o início do ano de 2025. Muita gente está iniciando o ano endividada e ainda se depara com um monte de contas e impostos”, completa o consultor financeiro.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Para Borochovicius, as pessoas precisam se educar financeiramente para poupar parte da renda e orienta como deve ser distribuída a receita familiar no orçamento. “É comum as pessoas trabalharem para pagarem contas e o que sobra, investem. É preciso inverter essa ordem pagando-se primeiro. Então, após receber o salário, recomendo guardar 10% e ajustar o padrão de vida para gastar somente a diferença da receita líquida”, indica.

“Para honrar os compromissos ligados às contas como habitação, alimentação, medicamentos e transporte faz-se uma reserva de 60%. Para a educação, 10%, para montar uma reserva de emergência e realizar compras de bens desejados e não necessários, 10%, e para o lazer e presentes, os últimos 10%”, continua o economista.

“Para conseguir equilibrar o orçamento leva tempo porque é necessário mudar o hábito de consumo, então, é comum que a conta não feche nos primeiros meses. Esse exercício precisa ser feito mensalmente até que vire hábito, até que não seja uma dor. O mais difícil é abrir mão de privilégios, de regalias, de confortos que atualmente as pessoas já têm e se habituaram...”, conclui Borochovicius.

O resultado de todo esse cuidado com os gastos é tranquilidade a médio e longo prazo, garante o economista. “O equilíbrio financeiro permite que seja realizada reserva para uma aposentadoria mais tranquila e um ambiente menos conturbado, sem cobranças, sem brigas familiares, sem pressão pela busca de novas receitas, sem estresse”, assinala.

PAGAR IPTU E IPVA À VISTA PODE COMPENSAR PARA SE LIVRAR DOS JUROS

Uma das principais dúvidas do consumidor no início do ano é se impostos como IPTU e IPVA devem ser pagos à vista ou parcelados. O economista e assessor administrativo da ACIC (Associação Comercial e Industrial de Campinas), Mário Eduardo Campos, afirma que a resposta depende do planejamento orçamentário de cada família e deve considerar outros compromissos financeiros, incluindo gastos no cartão de crédito ainda relacionados às festas de final de ano.

IPVA 2024: quem parcelar o imposto vai pagar altas taxas de juros

“Como ocorre no início do ano, temos várias contas a pagar. Além do IPVA e IPTU, temos compras feitas com cartão de crédito, matrícula escolar dos filhos, compra do material escolar ... ou seja: é preciso verificar as entradas e saídas na renda familiar para decidir a melhor forma de pagar os impostos”, pondera o economista.

Campos recorda que, no caso do IPVA, onde há a opção de pagamento à vista com desconto ou parcelado em até cinco vezes, a vantagem para pagamento único ocorre “desde que o proprietário do veículo tenha o dinheiro em conta ou mesmo aplicado”.

“Isso porque o desconto oferecido pelo governo de 3% sobre o total, corresponde a um juros mensal de 1,54%, porcentagem esta muito superior ao rendimento das aplicações de baixo risco ou até mesmo de risco moderado”, explica.

Já para quem optar pelo parcelamento, a dica é observar os vencimentos em cada mês e não atrasar, evitando multas ou mesmo inscrição do veículo na dívida ativa. “Quanto ao IPTU, vale observar o desconto que será concedido normalmente. Nestes casos, os juros cobrados estão próximos dos juros das aplicações. Assim, cabe ao contribuinte escolher entre parcelar ou pagar à vista”, diz Campos.

O economista Eli Borochovicius calcula que parcelar o IPVA/2024 no Estado de São Paulo gera um custo de 20,22% ao ano. “Portanto, para aquelas pessoas que estão com o dinheiro aplicado e rendendo acima dessa taxa, faz sentido manter a aplicação e pagar de forma parcelada. Para quem não consegue essa remuneração, o que é mais comum financeiramente, é mais viável pagar à vista e aproveitar o desconto...Quem deixou de fazer a reserva financeira e precisar parcelar, terá que pagar essa taxa absurda”, alerta. Sobre o IPTU, o economista diz que “normalmente compensa antecipar o pagamento do imposto, mas depende de cada município porque as taxas podem variar”.

Para quem não tem reserva de recursos para quitar os impostos à vista é aconselhável parcelar. “A pessoa deve fazer um planejamento mensal. É mais fácil quando esses impostos (IPTU e IPVA) são pagos parcelados, é mais vantajoso e traz um equilíbrio melhor para o orçamento. O mesmo vale para seguro de casa, material escolar. Assim, a pessoa tem um controle mês a mês do que pode ser feito e como pagar”, afirma o gestor e consultor financeiro, Rogério Araújo.   

ENROLADOS COM DÍVIDA DEVEM NEGOCIAR DÉBITOS PARA ORGANIZAR FINANÇAS

Para quem começa 2024 endividado e não sabe o que fazer para arcar com impostos e despesas dos primeiros meses do ano, a dica é negociar os débitos. “Nesse caso, procure ajuda, um parcelamento dos débitos, para melhorar o endividamento e sair dele de forma tranquila e com planejamento”, orienta o gestor e consultor financeiro Rogério Araújo.

O economista Eli Borochovicius destaca que após identificar o valor dos juros que devem ser pagos por mês, é aconselhável buscar a negociação da dívida com os credores, aproveitando a concessão de descontos e a possibilidade de parcelar a dívida. “Existem algumas plataformas de negociação que fazem isso com o uso da inteligência artificial e é super simples de consultar e receber uma proposta para a quitação da dívida”, propõe.

“O segundo passo é consultar o planejamento financeiro que já foi realizado para saber se as parcelas caberão no bolso (dentro dos 10% da reserva financeira). Renegociar a dívida e se tornar inadimplente não é a melhor solução. Recomendo priorizar o pagamento das contas que geram os maiores juros”, orienta Borochovicius.

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