‘O humor transforma e o riso cura’, diz ator de Sumaré após batalha contra o câncer

A trajetória inspiradora do ator e influenciador digital Diego Trevisan, o sumareense que vence a luta contra a doença com a ajuda da arte e do espírito cômico

Quem vê o ator Diego Trevisan em cena nas redes sociais com seus personagens Josefa, Jennyfer, Mário Huano, Cacá, Irmã Samira, Nestor e Léo nem imagina que o artista, dois anos atrás, travou uma batalha, vitoriosa, contra o câncer de medula óssea. Trevisan, 37 anos, transformou a sua dor em arte, aprendizado e ajuda a outras pessoas por meio das redes sociais.

Na sua trajetória de superação nasceram os sete personagens que ele criou para falar de assuntos sérios do dia a dia, com leveza e bom humor. Com a interpretação do artista, essas figuras ganham vida e levam alegria e esperança para os seguidores de Trevisan no Instagram (@diego_trevsan) e no Tik Tok (@diegotrevisan7).

A descoberta da doença foi em 2020. Dias difíceis e desafiadores para o artista e, hoje, também influenciador digital. “Enfrentei a pandemia, o término de relacionamento e a descoberta de um câncer. Por um momento, pareceu que toda a grandeza do meu ser se reduzia àquela circunstância”, relembra Trevisan.

“Mas o desespero, o medo e a confusão mental, aos poucos, foram dando lugar à calma, à coragem e à clareza: eu vou fazer o tratamento”, completa o artista.

O processo de tratamento foi longo e doloroso. Trevisan passou por quatro procedimentos, dentre eles, sessões de quimioterapia e imunoterapia.

Quando chegava à clínica, relembra, entrava em estado meditativo e “imaginava as gotinhas passando pelo acesso venoso e percorrendo sua corrente sanguínea até chegar no linfoma para destruí-lo, pouco a pouco”.

Assim que terminava, Trevisan ia direto para a casa de seus pais. Os efeitos colaterais eram muitos: dores nas articulações, esquecimentos, cansaço e sonolência nos dois primeiros dias. Grande pressão física, ânsia, perda de apetite, desânimo, tristeza, após o terceiro dia da quimioterapia. “Além disso, um profundo sentimento de solidão tomava conta de mim, mesmo rodeado de cuidados pela família”, descreve.

Para superar o câncer, Trevisan conta que precisou se transformar, se maquiar, se caracterizar com figurinos e perucas para dar personalidade a seus personagens. “Então, me agarrei na alegria da Josefa, no amor-próprio da Jennyfer, na paz de espírito do Mário Huano, na coragem do Cacá e na fé da Irmã Samira para superar os desafios e seguir em frente”, conta.

“Todas as personagens são reflexo de quem eu sou. Traz um pouco das minhas diversas personalidades. Nós temos diversas personas dentro de nós. São personas simples e fáceis de se identificar que acrescentam leveza e humor a esse momento tão frágil da sociedade, em que, se pararmos para pensar, está física, psicológica e emocionalmente doente”, filosofa o ator.

Para Trevisan, a arte e o humor o ajudaram a superar a doença e a atravessar os momentos de dificuldade com mais leveza. Transformaram os momentos de dor em aprendizado e ressignificação da vida. Também fizeram o artista descobrir nas redes sociais uma potente ferramenta de comunicação para levar mensagens de esperança para milhões de pessoas, sempre com a missão de provocar um riso e tornar o dia de seus seguidores mais leves.

E, assim, por meio da arte, Trevisan escreve uma história que inspira. Vem recuperando os quilos perdidos, as suas bochechas coradas, seus cabelos, a aparência saudável e, principalmente, a vontade de viver mais e cada vez melhor.

Redescobriu-se produzindo seus próprios conteúdos, que já abriram várias portas profissionais. Toca sua vida de empresário, ator e influenciador digital.

Atualmente, para alcançar a cura total do câncer, o ator faz seu quarto e mais eficiente procedimento, necessário para o transplante de medula autólogo. Nesse tipo de transplante, as células-tronco do próprio paciente são coletadas e utilizadas para a recuperação, após quimioterapia ou radioterapia. “Zerando minha imunidade eles matam o restinho de linfoma que tem e, a partir daí, vão estimulando pra medula produzir e eu nascer como se fosse um bebê”, comemora o ator.

Se o riso realmente nasce do choro, Trevisan cumpre muito bem o seu papel, misturando um humor por vezes escrachado, sarcástico e ácido, e por outras provocativo, poético e crítico à sua história de superação nas redes sociais.

“Se eu conseguir transmitir para meu público um pouquinho da gratidão que tenho pela minha vida e pelo presente do cotidiano, já sinto que cumpri com minha missão de tocar as pessoas através da comunicação. E ficarei muito feliz. Pois, além de acreditar que o humor transforma, hoje, eu também sei que o riso cura!”, afirma Diego Trevisan.

Paixão pela arte descoberta aos 12 anos

Diego Trevisan descobriu a paixão pela arte de atuar aos 12 anos de idade. Foi por meio do teatro que ele superou a timidez, a quietude e “descobriu seu lugar no mundo”.

Em 2006, aos 17 anos, ingressou na faculdade de Artes Cênicas pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), onde morou por sete anos, e pode mergulhar na arte de representar.

Trevisan voltou a Sumaré em 2013 para colocar em prática tudo o que aprendeu na faculdade. Começou a dar aulas de teatro pela prefeitura.

“Como dizia Antunes Filho, um dos principais nomes do teatro e diretores do País, a missão do teatro não é só formar o público. É formar consciência também. Foi com essa mesma responsabilidade social que voltei para minha cidade, Sumaré”, observa Trevisan.

Atualmente, o ator divide seu tempo no cuidado com a saúde, a administração da produtora de vídeo onde ele é sócio, na produção de roteiros e gravações dos vídeos de seus personagens para a internet.

Todo trabalho é feito em home office, com a ajuda do seu celular e da sua vocação de ensinar por meio da arte. “Assisto muita coisa pela internet e vejo o que quero dizer, o que quero brincar ou falar. Não tenho rotina de gravação, nem equipe. Eu que gravo e edito no celular. Às vezes, faço com equipamento melhor, câmera profissional, converso com meu sócio, ele faz a edição. Mas, a maior parte sou eu mesmo”.

Trevisan trabalha para ampliar seu engajamento nas redes sociais e sonha em sobreviver somente da arte. “Quero usar as minhas redes sociais para trazer a experiência que eu tive em relação ao câncer. Pra mim, a arte é para comunicar, transformar, trazer alegria, pensamento, ação para as pessoas. Eu descobri que posso usar minhas redes sociais para ajudar as pessoas atravessarem problemas, pensar e filosofar sobre a vida”, assinala.

“O teatro é minha casa, mas encontrei nas redes sociais uma possibilidade de atingir milhões de pessoas de uma forma prática, rápida, fácil, produzindo conteúdo...quero falar da valorização da vida”, completa o ator. O talento de Trevisan pode ser acompanhado pelo Instagram (@diego_trevsan) e pelo Tik Tok (@diegotrevisan7).

AS FACETAS DE DIEGO TREVISAN

JOSEFA

“Josefa é uma mulher empoderada. Mesmo sendo dona de casa, ela é feminista, traz esse poder da mulher. Ao mesmo tempo, é uma mãe protetora. E eu trago essa coisa de revolucionário. Sou feminista, defendo o direito das mulheres mas, ao mesmo tempo, acredito na construção da família, independente de que tipo de família seja”.

IRMÃ SAMIRA

“A irmã Samira é um pouco a ironia do que penso sobre quem é extremamente religioso, mas não leva a religião ao pé da letra. Muitas vezes, a gente usa a religião como uma camada de proteção. Mas quem é você por trás disso?”.

NESTOR

“Nestor é extremamente conservador, a favor das armas, preconceituoso, racista, misógino, machista. Ex-militar, é o estereótipo absurdo do preconceito com muito humor para as pessoas que pensam dessa forma refletirem”.

 JENNYFER

“Jennifer é meu lado mais brincalhão. Gosto de encontrar os amigos, me divertir, de uma farra”.

LÉO

“Léo é um nerd, um serzinho carinhoso, muito tímido que gosta de estudar, respeitar a natureza, é vegano, gosta de saber sobre tudo: filme, diversidade, origem das palavras, é muito intelectual”.

CACÁ

“Cacá é meu personagem afeminado, gay, sou homossexual assumido. Tudo que quero falar sobre a homossexualidade, falo através do Cacá”.

MARIO HUANO

“Mario Huano  é meu lado mais paciente, mais musical. Gosto de música, amo MPB”.

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