Dica de Leitura: Porco de Raça

Dica de Leitura: Porco de Raça (Bruno Ribeiro) Editora: Darkside Books | Páginas: 192

Evelyn Ruani

Bibliotecária da Rede Sesi-SP e leitora compulsiva. Apaixonada por livros e palavras.


Hoje vamos conhecer um pouco mais sobre o autor Bruno Ribeiro e sua obra “Porco de Raça” publicada pela editora SAIFERS.


Bruno Ribeiro é escritor, tradutor e roteirista nascido em 1989, em Pouso Alegre, Minas Gerais, e que atualmente vive em Campina Grande, Paraíba. Autor de Arranhando Paredes (2014), traduzido para o espanhol pela editora argentina Outsider, Febre de Enxofre (2016), Glitter (2018), finalista da 1° edição do Prêmio Kindle e Menção Honrosa do 1° Prêmio Mix Literário, Bartolomeu (2019) e Como Usar um Pesadelo (2020).


Mestre em Escrita Criativa pela Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), venceu em 2020 o Prêmio Machado DarkSide com o romance Porco de Raça e também o Prêmio Todavia de Não Ficção. Vem comigo conhecer um pouco mais sobre esse autor:

 

Como a literatura entrou em sua vida?

Gosto de dizer que entrei na literatura quando não me convidaram para uma festa na adolescência. É mais ou menos isso. Eu me mudei bastante, de Minas Gerais pra São Paulo, Recife, Campina Grande... E em todos esses locais, principalmente nos colégios, passeis por maus bocados. Boa parte dessa violência que ocorreu comigo, descobri depois, partia do racismo. Então a literatura foi surgindo como uma resposta contra essas violências.

 

Você tem alguma rotina para escrever ou escreve quando surge oportunidade?

Sou extremamente indisciplinado, então foi preciso durante esses anos de escrita criar o mínimo de ordem e disciplina no meu processo. Tento escrever mais de manhã, pois é um horário que sou muito produtivo. De tarde, busco focar mais nas leituras e pesquisas. De noite, dependendo do ânimo, escrevo mais um pouco ou me dedico a outras atividades.

 

Quanto tempo demora para concluir um livro?

Cada livro tem seu tempo. Alguns eu termino rápido, outros duram anos. Quatro, cinco anos. Mas até aqueles em que termino rápido, às vezes, a reescritura e a revisão levam um bom tempo para serem concluídas. Seja como for é um processo lento e arrastado. O escritor precisa ter paciência para produzir um livro com o mínimo de qualidade.

 

As histórias “se escrevem” sozinhas ou você pensa na trama inteira?

Também depende do livro. Eles que me entregam essa resposta. Os meus romances Bartolomeu e Glitter, por exemplo, planejei toda a trama antes de escrever. Fiz escaletas e outros esquemas narrativos. Já Febre de Enxofre e Porco de Raça fui descobrindo enquanto escrevia. Gosto de oscilar entre os processos.

 

De onde vem a inspiração?

Vem de todos os lugares. O escritor precisa ser curioso, visualizar um galpão vazio na sua mente, enchê-lo de referências, leituras, ideias, pesquisas, imagens, vida (s), fragmentos, fatos, e depois entrar nesse galpão e se perder dentro dele, deixando que as coisas ali dentro lhe contaminem. A inspiração nada mais é que um excesso de curiosidade misturado com um excesso monumental de trabalho.

 

Quais são seus livros e autores/autoras favoritos?

“Frankenstein”, da Mary Shelley, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do Machado de Assis e “Mestre e Margarida”, do Mikhail Bulgakov são os meus livros favoritos.

Sempre difícil citar autores favoritos, mas acho que seriam Rubem Fonseca, Hilda Hilst, Clive Barker, Chuck Palahniuk, Jorge Luis Borges, Mariana Enriquez, César Aira, Toni Morrison, Michel Houellebecq... E por aí vai.


Tem planos para livros futuros?

Sempre! Esse ano devo lançar um livro-reportagem que sairá pela todavia e já tenho engatilhado dois romances de ficção pela Alfaguara, que devem sair nos próximos anos.

 

RESENHA

Um soco no estômago.

 

“Os fracos do mundo não costumam bater, mas aprendem desde cedo a apanhar”.

 

Porco de Raça é um soco no estômago, como bem descreveu a vida, Clarice Lispector. Traz uma crítica social intensa permeada de suspense e terror e um ritmo de narrativa alucinante que dá a sensação de estarmos assistindo aos episódios de uma série que nos empurra cada vez mais para um desfecho terrível.


Muito melhor que muitas séries, no entanto, a narrativa brutal e seca de Bruno Ribeiro nos entrega a história de um professor paraibano, negro, desempregado que carrega uma sucessão de infortúnios: um casamento que não deu certo, uma relação familiar desajustada e uma incessante busca por se encaixar num mundo estranho.


Sua família, negros que decidiram se encaixar no que se espera deles, é relativamente bem sucedida, incluindo seu irmão Bruno que entrou para a vida política e o socorre de vez em quando em suas enrascadas, nunca antes sem criticar sua forma de viver, tentando fazer com que se encaixe, aceitando a vida como ela é.


Num dado momento da narrativa é capturado e acorda em um quarto estranho onde toca uma música que o remete a seu passado. Logo em seguida é jogado num ringue, com uma máscara de porco cobrindo sua face e obrigado a lutar com um oponente que também veste uma máscara de animal. Totalmente despreparado para isso, leva uma surra e acorda no mesmo quarto esquisito.


Vamos entendendo aos poucos e junto com o protagonista, que agora faz parte de uma organização de lutas clandestinas com um processo cruel e intenso de desumanização para entreter homens ricos da sociedade que apostam seu dinheiro ilícito nos animais que vão ao ringue. Bruno Ribeiro é genial na forma como construiu esse romance, e suas descrições viscerais são tão vívidas e visuais que por vezes é difícil não retirar os olhos da linha e respirar antes de continuar.


Em suas linhas narrativas tem muito sangue, muita vida como ela é, muita crítica social mostrando um racismo estrutural que só permite ao negro duas saídas muito claras: se encaixar ou o espetáculo do horror, a desumanização e o descarte. Como bem diz a quarta capa, esse livro é o dedo na ferida numa narrativa transgressora.


Não há nada comum nessa leitura, o que me agradou profundamente e o trabalho editorial da Darkside tornou tudo ainda mais visceral e vívido, com encadernação em capa dura e ilustrações ricas em detalhes e horror.

Super recomendo a leitura!

 

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SOBRE O AUTOR

 

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