Cultura

Dica de Leitura: A Mão Esquerda da Escuridão (Ursula K. Le Guin)

Editora: Aleph @editoraaleph • Páginas: 304

“Uma voz proclamando a verdade é uma força maior do que frotas e exércitos, se lhe derem tempo”.

Todo mundo sabe que ficção científica é meu gênero favorito. Mas uma das vergonhas literárias que eu carregava nesse sentido era não conhecer nenhuma obra de Ursula K. Le Guin. Quando a nave mãe (editora Aleph) me enviou esse livro pra leitura, eu fiquei super animada e mergulhei assim que consegui nessa leitura. Outra confissão que tenho a fazer, é que eu não tinha a menor ideia sobre a história do livro, eu sempre me encantei com o título, que acho lindo mas nunca tinha lido sequer a sinopse. Então foi uma enorme e grata surpresa quando me deparei com questões tão atuais e importantes abordadas nesse livro.

“Luz é a mão esquerda da escuridão”

Um terráqueo, Genly Ai, é enviado a um planeta gélido chamado Gethen com a missão de convencê-los a se juntar ao Ekumen, uma espécie de aliança entre os mundos humanoides, já que os habitante do planeta são superiores. No entanto o terráqueo se depara com um mundo complexo, cheio de intrigas e desconfianças entre seus reinos e nenhum interesse em avanços tecnológicos e progresso. Acaba se envolvendo numa trama política complicada que mudará completamente o rumo da sua missão.
Entre as dificuldades que Genly Ai encontra nesse novo planeta, está o fato de seus habitantes terem a capacidade de desenvolver os dois gêneros: masculino e feminino e oscilarem entre ambos em períodos específicos de reprodução. O fato do protagonista ser sempre de um único gênero é um dos motivos de desconfiança e de ter ganhado o apelido de “pervertido” já que pode se reproduzir a qualquer momento.

“Existem aspectos da ambissexualidade que apenas vislumbramos ou supusemos, e que talvez jamais compreendamos inteiramente. […] Considere: não existe nenhuma divisão da humanidade em metades forte e fraca, protetora/protegida, dominante/submissa, dona/escrava, ativa/passiva”.

A história é contada através de dois personagens, Genly Ai e Theren Hart, um político de Gethen, e esse é um recurso que costumo gostar muito já que nos permite ter duas visões diferentes da história e um melhor entendimento da mesma. Juntos, esses dois personagens vão enfrentar uma jornada intensa e cheia de desafios sociais, políticos e sentimentais/sexuais lutando contra a cultura de um planeta que insiste em manter-se isolado e seus próprios conceitos e realidades.

“Um homem que não destesta um mau governo é idiota”.

As reflexões e discussões que essa abordagem da autora nos traz é sem preço. Pensar que o livro foi publicado em 1960, por uma mulher na ficção científica e trazendo um olhar para a fluidez de gênero é simplesmente sensacional. Confesso que em alguns momentos, a autora traz alguns conceitos esteriotipados de traços “tipicamente” masculinos e femininos e isso me incomodou um pouco, mas é preciso levar a época em consideração e a própria autora reconheceu que cometeu alguns erros na linguagem dos personagens.
Dito isto, é impressionante a força narrativa de Le Guin e sua capacidade ímpar na construção do universo dessa história, incluindo contos e lendas durante a narrativa, tornando todo o universo mais palpável e verossímil para o leitor. Essa edição lindíssima e capa dura da Editora Aleph ainda traz uma introdução sensacional da própria autora e uma do Neil Gaiman.

“A única coisa que torna a vida possível é a incerteza permanente e intolerável: não saber o que vem depois”.

Super recomendo a leitura!
Vou ficar muito feliz se me escreverem contando o que acharam da leitura!! E se por acaso quiserem alguma leitura específica, podem me pedir pelo e-mail!! Boa semana e ótimas leituras!!

SOBRE A AUTORA

Ursula Kroeber Le Guin nasceu nos Estados Unidos em 21 de outubro de 1929. Foi uma das escritoras de ficção científica e fantasia mais proeminentes do mundo. Vencedora de mais de cinquenta prêmios literários e criadora de diversos universos ficcionais, Ursula também era poeta, ensaísta e autora de livros infantis. Ficou conhecida por livros como A mão esquerda da escuridão, Os despossuídos e o laureado livro infanto-juvenil The farthest shore, além de ter sido indicada ao Pulitzer pelo livro de contos Searod. Faleceu em 2018.

EVELYN RUANI

Bibliotecária da Rede Sesi-SP e leitora compulsiva.
Apaixonada por livros e palavras.

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